Yellen diz que eliminar direito ao aborto teria "efeitos prejudiciais" sobre economia dos EUA
WASHINGTON (Reuters) - A secretåria do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse nesta terça-feira que eliminar o acesso das mulheres ao aborto teria "efeitos muito prejudiciais" para a economia norte-americana, impedindo que algumas mulheres finalizem seus estudos, reduzindo o potencial de renda ao longo da vida e mantendo algumas fora da força de trabalho.
Os comentĂĄrios de Yellen em uma audiĂȘncia do ComitĂȘ BancĂĄrio do Senado vieram pouco mais de uma semana apĂłs o vazamento de um projeto de decisĂŁo da Suprema Corte que derrubaria o histĂłrico precedente do julgamento Roe vs. Wade, de 1973, que estabeleceu o direito constitucional ao aborto. O vazamento da decisĂŁo, ainda pendente, alimentou temores de que muitos Estados possam decretar amplas restriçÔes ao procedimento mĂ©dico.
A questĂŁo dominou uma audiĂȘncia sobre o relatĂłrio anual do Conselho de SupervisĂŁo de Estabilidade Financeira do Tesouro dos EUA.
Yellen, a primeira mulher a ocupar seu atual cargo, disse em resposta a uma pergunta de um senador que, segundo pesquisas, a decisĂŁo Roe vs. Wade teve um impacto favorĂĄvel no bem-estar de crianças e que negar Ă s mulheres o acesso ao aborto aumenta suas chances de viver na pobreza ou na assistĂȘncia pĂșblica.
"Acredito que eliminar os direitos das mulheres de tomarem decisÔes sobre quando ter filhos ou não teria efeitos muito prejudiciais à economia e atrasaria as mulheres em décadas", disse Yellen.
Os comentĂĄrios de Yellen foram repreendidos pelo senador republicano Tim Scott, da Carolina do Sul, que disse que a abordagem da secretĂĄria sobre as consequĂȘncias econĂŽmicas do debate sobre o aborto foi "dura" e inapropriada para uma questĂŁo social tĂŁo dolorosa.
"Acho que as pessoas podem discordar sobre a questĂŁo de ser prĂł-vida ou prĂł-aborto. Mas, no final, acho que enquadrar isso no contexto da participação da força de trabalho parece insensĂvel para mim", disse Scott, acrescentando que foi criado por uma mĂŁe solteira negra em situação de pobreza.
Em resposta, Yellen afirmou que direitos reprodutivos permitem que mulheres planejem uma vida "gratificante e satisfatória", o que inclui ter recursos financeiros para criar uma criança.
âEm muitos casos, os abortos sĂŁo de mulheres adolescentes, principalmente de baixa renda e muitas vezes negras, que nĂŁo tĂȘm condiçÔes de cuidar dos filhos, tĂȘm gestaçÔes inesperadas e que muitas vezes as privam da capacidade de continuar seus estudos para mais tarde participar da força de trabalho", disse Yellen.
"Assim, hå um efeito na participação da força de trabalho, mas isso significa que as crianças vão crescer na pobreza e ter piores condiçÔes de vida", disse Yellen. "Isso não é duro. Esta é a verdade", acrescentou.
Outros democratas saĂram em defesa de Yellen, incluindo a senadora Catherine Cortez Masto, de Nevada, que aconselhou Scott a nĂŁo "impor sua experiĂȘncia e suas circunstĂąncias aos outros atĂ© que vocĂȘ se coloque no lugar deles".
A senadora Tina Smith, democrata de Minnesota e outro membro do painel bancĂĄrio, disse Ă CNN que Yellen expressou uma verdade fundamental sobre a autonomia feminina.
"Ela estava expressando o que acredito que quase toda mulher sabe: se vocĂȘ nĂŁo tem controle sobre sua vida reprodutiva, nĂŁo tem controle sobre nenhum aspecto de sua vida, incluindo sua oportunidade econĂŽmica", disse Smith.
(Reportagem de David Lawder)