Videogames envolvendo políticos se tornaram virais no Brasil

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Jogo
Jogo "Bolsonaryo v Lulo" viraliza e escancara cultura política divisionista online (Mateus Bonomi/Getty Images)
  • Jogo que coloca "réplicas satíricas" de Bolsonaro e Lula já foi comprado mais de 170 mil vezes

  • "Jogos políticos" surgiram em outros países, mas são mais numerosos e populares no Brasil

  • Brasil possui a quinta maior quantidade de jogadores do mundo

É possível uma cultura política divisionista mudar a vida de uma pessoa e, ao mesmo tempo virar um jogo popular? É justamente o que responde Gabriel Nunes, o criador do jogo "Kandidatos", em entrevista especial ao portal norte-americano The Economist. O brasileiro projeta videogames há mais de uma década, mas “não ganhava um centavo antes desse novo jogo, lançado em 2020.

O game que envolve um combate corpo a corpo entre políticos brasileiros, incluindo “Bolsonaryo” - que se parece com Jair Messias Bolsonaro, o atual presidente de direita - e “Lulo” - uma cópia do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva -, foi baixado 50 mil vezes na semana de lançamento (por US$ 0,99 - cerca de R$ 5,60 no Steam, uma loja online). No total, já foi comprado cerca de 170 mil vezes.

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Reflexo do cenário político brasileiro

Propagado online, ocasionalmente por jogadores famosos, ele se junta a um número crescente de jogos semelhantes a memes de desenvolvedores independentes no Brasil cujo objetivo principal é zombar da política. Pelo menos uma dúzia chegou ao mercado nos últimos anos. Isso reflete não apenas a natureza ocasionalmente ridícula da política nacional, mas também a história dos videogames no país, lar da quinta maior quantidade de jogadores do mundo.

Cultura gamer no país

A proibição das importações na década de 1980 e os altos impostos desde então moldaram sua cultura de jogos de maneiras estranhas e únicas. Em 1987, por exemplo, a Sega - fabricante japonesa de consoles - se associou à TecToy, empresa brasileira de brinquedos. Juntos, eles fazem uma versão de um dos consoles da Sega, o Master System, que em 2016 vendeu impressionantes 8 milhões de unidades - milhões a mais do que qualquer console da Sega nos Estados Unidos. Seus consoles, agora, estão obsoletos na maior parte do mundo, mas não no Brasil.

"Oportunidade perfeita"

De acordo com Thiago Falcão, da Universidade Federal da Paraíba, quando, na década de 2010, um enorme escândalo de corrupção envolveu quase todos os partidos políticos no Brasil, foi a oportunidade perfeita para o mundo dos jogos colidir com o da política. E à medida que mais pessoas adquiriam telefones celulares, a 'população' de jogadores só crescia. Hoje, 96% dos gamers brasileiros jogam parte ou o tempo todo em um dispositivo móvel. Os telefones, por sua vez, se prestam a jogos do tipo meme que podem se tornar virais em aplicativos de mensagens como o WhatsApp, que é usado por 120 milhões de brasileiros (ou 56% da população).

Mais populares entre a direita

Jogos políticos satíricos surgiram em outros países, mas esses jogos são mais numerosos e populares no Brasil do que em qualquer outro lugar. Mas grande parte da sátira no mundo dos videogames geralmente se inclina para a direita. Isabela Kalil, uma antropóloga que entrevistou mais de 1.000 brasileiros de direita antes das eleições de 2018, observa que “nerds, gamers, hackers e haters” estavam entre as primeiras das 16 categorias de direita a apoiá-lo.

E de acordo com Gabriel, a 'população' de jogadores tende a ser majoritariamente formada por pessoas do sexo masculino, brancos e jovens - na qual muitos se regozijam com o humor imaturo e, muitas vezes, bastante ofensivo, da mesma forma que Bolsonaro. Uma vez no cargo, ele os recompensou reduzindo os impostos sobre os consoles de videogame três vezes, de 50% em 2019 para 20% agora.