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Veganismo de mãe para filho: os efeitos da dieta vegana em bebês e crianças

Dominique e Julia (Foto: Arquivo Pessoal)

Por Thaís Sabino @thaissabino

A dieta vegana, que exclui todos os alimentos de origem animal do cardápio, já é polêmica para adultos e quando se estende a bebês e crianças pode ser ainda mais questionada. Um dos principais pontos levantados por profissionais é a deficiência de nutrientes, como da vitamina B12, exclusivamente encontrada em alimentos de origem animal, conforme explicou a nutricionista do Hospital e Maternidade São Cristóvão, Cintya Bassi. “A falta do nutriente pode causar problemas hematológicos, neurológicos e cardiovasculares em crianças. Em gestantes, pode impactar no baixo ganho de peso do bebê, comprometer o sistema imunológico e até causar má formação fetal”, explicou Cintya.

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No entanto, dizer que manter o veganismo durante a gravidez prejudica a saúde do bebê é um mito, segundo a nutricionista. Assim como grávidas veganas, alguns nutrientes também devem ser rigorosamente monitorados na gestação de mulheres que seguem outros tipos de dietas, como ferro, ácido fólico e cálcio, enumerou a nutricionista do Hospital e Maternidade Santa Joana, Luciana da Costa. A única diferença, segundo Luciana, é que veganas precisarão necessariamente de suplemento para manter os níveis ideais de vitamina B12. Porém, uma alimentação balanceada e bem planejada é indicada para qualquer gestante.

Uma das principais preocupações de Julia Harger durante a gravidez foi em elaborar uma dieta vegana balanceada para não comprometer a saúde da sua filha Dominique. “Comendo menos massa para evitar o ganho de peso desnecessário, ingerindo mais frutas e verduras. Utilizei multivitamínicos focados em ferro e cálcio”, contou. Julia procurou uma nutricionista especializada para elaborar a dieta ideal e não teve qualquer problema nutricional na gestação. Ela confessou, porém, que foi questionada muitas vezes por pessoas leigas sobre a capacidade de suprir todas as necessidades do bebê seguindo o veganismo “Por outro lado, os profissionais elogiavam muito”, acrescentou.

De mãe para filho

Outro mito sobre a dieta vegana é o impacto na qualidade do leite materno. De acordo com Luciana, desde que a mãe tenha uma dieta balanceada não há qualquer comprometimento. “. A composição do leite materno pode até ser diferente, pois conterá quantidades menores de gorduras saturadas, mas terá quantidades maiores de gorduras insaturadas”, comparou a nutricionista. Após os seis primeiros meses, um profissional pode auxiliar a mãe a compor um cardápio vegano ideal para crianças. “As folhas verdes escuras, o tofu e o leite de soja fortificado podem ser bons aliados”, exemplificou Luciana.

Entre os benefícios do veganismo citados por Cintya, estão a menor oferta de colesterol e maior consumo de fibras. “Essa última, porém, pode aumentar a saciedade e reduzir a ingestão calórica, por isso, na infância, em que o requerimento de energia é alto, deve ser assegurado o consumo de alimentos com boa oferta calórica, como as frutas e oleaginosas”, acrescentou a nutricionista. Nutrientes como proteínas, ferro, cálcio, vitaminas D e B12 devem ser monitorados, porém a dieta vegana só será prejudicial ao desenvolvimento da criança se for rica em carboidratos simples, como doces e guloseimas, e não possuir variedade na seleção dos alimentos, disse Luciana.

Dominique tem um ano e meio, está seguindo os passos da mãe e leva uma dieta vegana, com bastante frutas, legumes, castanhas e alimentos variados, segundo Julia. Parte dos nutrientes, Dominique adquire do leite materno, e a mãe acrescenta óleo de linhaça à maioria das refeições, além de couve para suprir a necessidade de ferro e leite de amêndoa para cálcio. A pediatra e a nutricionista que acompanham Dominque são veganas e na creche ela tem acesso a alimentos veganos também, contou Julia.

Julia já se acostumou a responder a série de questões sobre mitos do veganismo, no entanto, contou que os eventos sociais ainda são um obstáculo para Dominique. “É muito fácil seduzir uma criança aos hábitos não veganos, pois sorvetes, chocolates com leite e outras guloseimas têm, a princípio e propositalmente, um sabor agradável. Vejo como um obstáculo quando pessoas desrespeitam minhas recomendações e oferecem esses alimentos para minha filha”, disse.