União Europeia poderá descongelar relação com Turquia, se mudar de governo

Após 20 anos no poder, como primeiro-ministro e presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan parece estar em sério risco de ter de passar a liderança para a oposição, nas eleições de 14 de maio.

Uma frente unida de seis partidos, com um único candidato, promete criar um sistema democrático mais pluralista do que o regime populista e autocrático do líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

Se assim for, a União Europeia (UE) poderá retomar a relação, congelada desde 2018."Estamos agora numa conjuntura e num momento muito importantes, um momento histórico", disse Sergey Lagodinsky, presidente da delegação Parlamentar Mista UE-Turquia do Parlamento Europeu, em entrevista à euronews.

"Será decidido se o governo continuará a ser problemático para a democracia, para o Estado de direito, mas, também, se continuará a agressividade em relação a vizinhos que são membros da UE, tais como a Grécia e Chipre. Estamos a chegar a uma fase em que a divergência entre a Turquia e a UE será irreversível", explicou o eurodeputado alemão dos verdes.

Apesar de ainda ser um país candidato à adesão, há quem defenda que a Turquia liderada por um governo mais pró-europeu deveria ser, sobretudo, um parceiro comercial com liberalização do regime de vistos de viagem.

Muito importante para as relações UE-Turquia, a oposição promete começar a desempenhar um papel construtivo nos assuntos regionais na Europa alargada e num sentido multilateral.

Ilke Toygur, professora de Geopolítica na Universidade Carlos III de Madrid, considera que a oposição fez três promessas fundamentais para que isso se torne realidade: "A primeira é a redemocratização e a reinstitucionalização, para que a Turquia volte a ser uma democracia, restabeleça o Estado de direito e tente garantir os direitos e liberdades fundamentais para todos".

"Em segundo lugar, afirmam que vão reclamar que a Turquia pertence ao Ocidente. E, em terceiro lugar, e muito importante para as relações UE-Turquia, começarão a desempenhar um papel construtivo nos assuntos regionais na Europa alargada e num sentido multilateral", conclui a académica, em entrevista à euronews.

Aliado na NATO, mas próximo da Rússia

As relações do governo de Ancara com os seus aliados da NATO também azedaram, devido às tensões sobre a proximidade com a Rússia, bem como o envolvimento da Turquia nos conflitos na Líbia e na Síria.

Mas mesmo com uma vitória da oposição, as mudanças não se farão de um dia para o outro, avisa Marc Pierini, antigo embaixador da UE na Turquia, em declarações à euronews.

"Há que destacar algumas características da Turquia atual, em particular o facto de ter aumentado o seu poder militar, que não vai diminuir. Tem mais influência política, que poderá manter-se. Existem outras características, tasi como ter uma central elétrica nuclear que foi construída e é operada pela Rússia. Ainda não está a funcionar, mas irá funcionar, e isso não vai desaparecer. Por isso, seja quem for que chegue ao poder, teremos de ter isto em conta", explicou o ex-diplomata.

No que diz respeito às relações difíceis da Turquia com os vizinhos Chipre e Grécia, ao nível da exploração do mar Mediterrâneo, os analistas dizem que o diálogo construtivo poderia substituir a atual retórica de ameaças.