Por Melissa Santos

A comunicação nunca esteve tão presente como nos dias de hoje. A internet e tecnologias, como WhatsApp, fizeram com que ter uma boa oratória fosse uma exigência para se dar bem tanto na vida pessoal quanto profissional. No entanto, de acordo com os especialistas ouvidos pelo Yahoo, falar bem em público não é um dom, mas sim, algo que pode ser aprendido.

E não importa qual a sua profissão. Até porque não existe um trabalho que não exija competência de falar em público, seja para mostrar seus resultados para o chefe ou para engajar seus funcionários.

“Faltam líderes que sabem se comunicar de forma eficiente e inspiradora. O dia a dia exige comunicação. Hoje, as pessoas são contratadas por técnica, mas demitidas por comportamento. A importância da comunicação interpessoal é cada vez maior e isso é algo que todos podem desenvolver”, explica Marina Dôliveira, head de conteúdo e professora de oratória na Escola Conquer.

Mas, afinal, o que faz com que as pessoas tenham tanto medo de falar em público? Para Marina, o maior problema é o medo de ser julgado durante uma apresentação. “O ser humano é social e vive para ser aceito na sociedade e nos grupos. Temos medo de não ser aceitos e julgados. Queremos que nossas ideias sejam levadas em conta e o medo de não ser aceito acaba sabotando as pessoas de falar em público”, explica Marina.

Já Reinaldo Polito, mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação da ECA-USP, acredita que o medo acontece por quatro motivos: falta de conhecimento sobre o tema, concatenação lógica, prática e autoconhecimento.

“Se a pessoa não conhece o tema, ela vai se sentir insegura e com receio de esquecer de algo relevante. Uma outra coisa que também pode prejudicar é a falta de organização do pensamento e o fato de nunca ter se apresentado para uma audiência. Mas a falta de autoconhecimento é ruim, pois as pessoas sempre assumem que não estão se saindo bem e essa auto-avaliação negativa provoca descarga de adrenalina, o que aumenta o descontrole na frente do público”, explica Polito.

Para combater esse medo, Polito recomenda algumas ações. Uma delas é saber mais que o suficiente para o tempo da apresentação. “Conhecer o assunto com profundidade vai fazer com que orador se sinta mais confiante, pois uma das preocupações de quem fala em público é esgotar o tema antes da hora”, fala.

O professor de oratória da ECA-USP também recomenda sempre pensar no começo, meio e fim de cada apresentação. “O início pode ser um simples agradecimento ao convite e os benefícios da palestra. Em seguida, resuma o tema que será tratado e esclareça o que será solucionado e, posteriormente, revelado. Na sequência, aborde o assunto principal e use argumentos. Por fim, conclua e peça aos ouvintes que reflitam”, orienta Polito.

Para melhorar sua performance de falar em público, Polito recomenda praticar bastante e agarrar todas as oportunidades de fazer apresentações.

Já Marina indica sempre prestar atenção no que vem na cabeça na hora de falar em público. “Se você diz que odeia isso, precisa entender o porque, identificar o grande sabotador. Se é porque não gosta que as pessoas te olhem, se você tem medo de não saber responder algo… A ideia é controlar o que dispara essa emoção”, explica.

Para quebrar esse pensamento, a dica de Marina é anotar em um papel uma frase motivadora. “O papel funciona como aquela pessoa que te empurra do avião quando você vai pular de paraquedas. É importante escrever um bom lembrete motivacional para te dar força para nesse momento”, fala.

Uma outra dica de Marina, baseada na pesquisa de Amy Cudy de Harvard, é adotar a pose de Super-Homem por dois minutos antes de falar em público. “Ela fez um estudo falando sobre quando fingimos algo, nos transformamos naquilo. Por isso, ao fazer uma pose confiante, mandamos mensagem para o nosso cérebro de que somos tudo aquilo. O corpo reage de forma positiva e libera testosterona e diminui o cortisol, hormônio do estresse. E isso faz com que tenhamos mais autoconfiança”, fala.

Para quem costuma tremer bastante, Marina explica que isso pode acontecer por conta do excesso de adrenalina. “A adrenalina não é ruim, mas o problema é o excesso. Por isso, recomendo subir escadas, dar alguns pulinhos para queimar essa adrenalina que pode atrapalhar o momento de falar em público”, explica.

A professora também indica a técnica do rosto amigo, que consiste em concentrar em uma pessoa que está prestando atenção na sua palestra. “Isso é bom principalmente para ganhar confiança de início. Também recomendo usar um perfume que gosta e ouvir sua música preferida antes de uma apresentação”, fala.

Tanto Polito quanto Marina indicam buscar cursos e ler livros para largar o medo e a timidez de falar em público. “Em 40 anos dando curso de oratória nunca encontrei uma pessoa sequer, desde que empenhada e dedicada, que não conseguisse superar suas dificuldades. Vale a pena investir algumas horas nesse aprendizado, pois dará dividendos para a vida toda”, explica Polito.