Seres humanos bebiam leite 6.000 anos antes de poder digerir a bebida [estudo]
Os seres humanos estavam bebendo leite milhares de anos antes de terem genes que permitissem sua digestĂŁo sem dores de barriga, diarreias e cĂłlicas. A descoberta foi feita por cientistas britĂąnicos e publicada na revista cientĂfica Nature. Anteriormente, se pensava que a tolerĂąncia Ă lactose teria se desenvolvido junto ao advento da agricultura, mas a nova descoberta desbanca essa teoria.
Para o achado, os autores analisaram milhares de resĂduos de gordura animal encontrados em 13.000 fragmentos de recipientes de 554 sĂtios arqueolĂłgicos por toda a Europa. Traços microscĂłpicos de leite em pedaços de cerĂąmica sugerem que o consumo de leite era alto durante o NeolĂtico europeu, de 7.000 a.C. em seguida.
Resistindo ao leite
TambĂ©m chamada de persistĂȘncia da lactase, a tolerĂąncia Ă lactose era muito rara durante o NeolĂtico. O açĂșcar do leite, chamado de lactose, Ă© transformado em glicose e galactose pela enzima lactase: sem ela, ou com pouco dela, a substĂąncia nĂŁo Ă© quebrada no estĂŽmago, o que faz com que a lactose fermente no intestino, gerando gases, diarreia e dores estomacais em quem consome o leite.
Analisando evidĂȘncias genĂ©ticas de povos prĂ©-histĂłricos europeus e asiĂĄticos, descobriu-se que os genes envolvidos na produção de lactase nĂŁo eram comuns atĂ© o ano 1000 a.C., quase 4.000 anos antes de sua primeira detecção no ser humano, datada de 4700 a.C. ApĂłs o primeiro milĂȘnio antes de Cristo, o gene se espalhou rapidamente pelo continente, levando poucos milhares de anos.
Segundo os cientistas, a frequĂȘncia dessa variante genĂ©tica aumentou de forma ridiculamente rĂĄpida para os padrĂ”es da biologia. Ă, provavelmente, o traço genĂ©tico mais unicamente selecionado a ter evoluĂdo em populaçÔes europeias, africanas, do sul da Ăsia e do Oriente MĂ©dio ao longo dos Ășltimos 10.000 anos.
Como o gene se espalhou?
Pensava-se, antes, que o consumo mais frequente de leite houvesse sido o fator determinante para a tolerùncia à lactose, mas agora esse não parece ter sido o caso. Então, qual foi? Estudando dados genéticos e médicos de mais de 300.000 pessoas no Reino Unido, os cientistas notaram que pessoas com o gene da lactase e pessoas com intolerùncia à lactose tomam mais ou menos a mesma quantidade de leite.
A questĂŁo Ă© que beber leite sendo intolerante Ă lactose nĂŁo irĂĄ matar o consumidor: os efeitos sĂŁo leves ou, no mĂĄximo, medianos. Mas isso muda caso a população esteja passando por uma Ă©poca de grande fome ou doença: indicadores de carestia (fome em massa) e exposição a patĂłgenos do passado mostram que a variante genĂ©tica que traz a persistĂȘncia da lactase esteve sob uma seleção natural mais pesada durante esses perĂodos difĂceis para a espĂ©cie humana.
Caso vocĂȘ seja intolerante Ă lactose, tomar leite pode dar uma diarreia ou cĂłlicas, flatulĂȘncia, sintomas desconfortĂĄveis. Mas vocĂȘ nĂŁo irĂĄ morrer. Uma diarreia combinada com outras doenças ou desnutrição, no entanto, pode ser fatal. Segundo os cientistas, foram esses momentos que acabaram selecionando â isto Ă©, deixando vivos â os humanos tolerantes Ă lactose. Caso vocĂȘ possa tomar leite sem problemas estomacais hoje em dia, agradeça aos seus ancestrais: eles passaram fome para que vocĂȘ pudesse beber seu cafĂ© com leite.
Fonte: Canaltech
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