Quem não tem deficiência pode falar sobre inclusão e acessibilidade?
Se você não tem nenhuma deficiência, com certeza já se perguntou se poderia falar sobre acessibilidade e inclusão e apoiar essa causa. Eu já recebi muitas vezes esse questionamento, tanto em eventos como em conversas privadas.
A dúvida maior, nessa situação, é como falar sobre o assunto sem apagar nossa presença e o nosso protagonismo. É um cuidado muito importante para se ter em mente. O lema do movimento internacional de pessoas com deficiência é “nada sobre nós sem nós”.
O que significa isso? Quer dizer que nenhuma decisão de política pública e nenhuma ação de acessibilidade e inclusão deve ser realizada sem consultar as pessoas afetadas e entidades representativas do segmento. Essa é uma luta árdua travada pelos ativistas dos direitos das pessoas com deficiência desde a metade do século XX.
Mas, por vezes, o entendimento sobre esse lema tão importante pode ser distorcido. Não o interpreto como uma proibição de pessoas sem deficiência falarem sobre acessibilidade e inclusão. Pelo contrário: para furar bolhas e expandir nossos direitos, precisamos construir alianças.
Isso não quer dizer que qualquer pessoa possa se autointitular um especialista em acessibilidade. Para chegar nessa conclusão, além de muito estudo, é necessário trabalhar lado a lado com pessoas que tenham algum tipo de deficiência.
E aqui é importante fazer uma outra diferenciação. Apoiar e falar sobre o assunto é diferente de falar em nome de alguém ou da causa. Um profissional pode ter um conhecimento vasto sobre inclusão, mas sempre tomar como base os fatos e dados disponíveis, principalmente coletados com base em pesquisas e na sua interação com a comunidade.
Ao mesmo tempo, não podemos nos dar ao luxo de recusar apoios nessa caminhada. Quanto mais pessoas estudarem e promoverem a acessibilidade e a inclusão nas suas rodas de conversa, no trabalho, com a sua família e com amigos, mais chances nós temos de tornar o mundo um local mais acolhedor e respeitoso com a diversidade.
Eu te convido a ser um aliado ou uma aliada da causa. Convide e construa eventos com pessoas com deficiência; estude o assunto; compartilhe conteúdo sobre acessibilidade e inclusão; fale sobre pessoas com deficiência nas suas conversas pessoais e profissionais; ajude a desmistificar estereótipos.
E, por fim, não deduza que você pode falar por alguém. Isso pode acontecer em ambientes familiares superprotetores, por exemplo, no qual muitos pais reivindicam o direito de falar por seus filhos com deficiência, ferindo completamente a autonomia e o conceito do nada sobre nós sem nós.
Com essas dicas e cuidados, você com certeza terá muito potencial para promover nosso protagonismo e representatividade, além de nos auxiliar a conscientizar outros grupos sobre a importância da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência. Também será mais fácil identificar os falsos aliados.
Descrição da imagem: sobre um fundo branco, duas mãos se cumprimentam. Elas são contornadas pelo pôr do sol, além de fotos de 10 pessoas, que conversam e também se cumprimentam