Para desgosto de Trump, China infla seu superávit comercial com EUA
Para desgosto de Trump, China infla seu superávit comercial com EUA
Porto de Lianyungang, província de Jiangsu, em 14 de janeiro de 2021O superávit da China com os Estados Unidos aumentou ainda mais no ano passado, infligindo um golpe final a Donald Trump, que fez do reequilíbrio comercial uma prioridade de sua Presidência.
Garantindo que as guerras comerciais eram fáceis de vencer, o presidente dos Estados Unidos adotou postura hostil contra o gigante asiático em 2018, denunciando a competição "injusta" de Pequim.
O impasse resultou em tarifas recíprocas sobre centenas de bilhões de dólares em bens. O confronto comercial pesou na economia global e mergulhou o mundo dos negócios em um clima de incerteza.
Pequim e Washington assinaram, porém, uma trégua em janeiro de 2020, pouco antes de o mundo ser afetado pela pandemia de covid-19.
De acordo com os termos do acordo, a China concordou em comprar US$ 200 bilhões adicionais em bens americanos ao longo de dois anos, o que supostamente ajudaria a reduzir o déficit americano.
Em 2020, no entanto, a China voltou a registrar um superávit comercial de 7,1%, a 316,9 bilhões de dólares, com os Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira a Alfândega chinesa, a menos de uma semana da saída do bilionário republicano da Casa Branca.
No ano passado, em meio à pandemia, a demanda por produtos médicos e eletrônicos para teletrabalho impulsionou amplamente as exportações chinesas para os EUA.
Na outra direção, as restrições sanitárias nos Estados Unidos foram um freio ao comércio com a China, avalia a economista Iris Pang, do banco ING.
Apesar de tudo, Pequim fez "esforços contínuos para cumprir seus compromissos" com Washington, segundo o analista Ting Lu, do banco de investimentos Nomura, observando em dezembro um aumento de 45% em um ano nas importações chinesas dos Estados Unidos.
- Importações fracas -
Os economistas acreditam que o futuro governo de Joe Biden deixará em vigor, pelo menos inicialmente, as sobretaxas sobre os produtos chineses.
Em uma entrevista publicada na segunda-feira, o negociador americano (USTR) Robert Lighthizer instou o próximo governo a manter essas sanções e justificar a guerra comercial.
"Transformamos a maneira como as pessoas pensam sobre o comércio e mudamos os modelos", disse ele.
Com o mundo como um todo, o superávit comercial da China atingiu seu nível mais alto desde 2015, de US$ 535 bilhões (+27% em um ano).
Apenas com a União Europeia, segundo parceiro comercial de Pequim depois do Sudeste Asiático, caiu 19%, para US$ 132,4 bilhões.
A chegada das vacinas significa que a demanda global por produtos ligados à pandemia se reduzirá, e isso "corre o risco de penalizar" as exportações chinesas no médio prazo, alerta o analista Tommy Wu, da Oxford Economics.
Enquanto isso, as vendas chinesas de produtos anticovid no exterior seguem em boa forma. O país exportou 224 bilhões de máscaras para o mundo entre março e dezembro.
"Isso é o equivalente a 40 máscaras por pessoa fora da China", disse o porta-voz da Alfândega chinesa, Li Kuiwen.
Primeiro país afetado pela covid-19, mas também o primeiro a se livrar dela, a China parece ser um termômetro da esperada recuperação da economia mundial.
Apesar da pandemia e da situação econômica, as exportações da segunda maior economia do mundo registraram em 2020 um aumento de 3,6% em um ano.
Somente em dezembro, o total de pedidos do exterior para a China aumentou 18,1% no ano. No entanto, este é um resultado inferior ao de novembro (21,1%).
Já as importações do gigante asiático aumentaram 6,5% no mês passado. Mas caíram 1,1% em todo ano de 2020, refletindo a fragilidade do consumo doméstico.
As importações devem, no entanto, "aumentar significativamente" este ano, à medida que a recuperação econômica da China melhora, acredita Wu.
Por enquanto, o país registrou superávit de 78 bilhões de dólares somente no mês de dezembro, um patamar praticamente recorde na opinião de analistas.
Espera-se que seja uma das poucas economias importantes a reportar um crescimento positivo do PIB em 2020. A China registrou um crescimento anual de 4,9% no terceiro trimestre.
sbr/bar/oaa/mr/tt