Ondas de calor marcam o clima de 2022: quanto do clima quente o corpo aguenta?
Ondas de calor extremo tĂȘm se tornado um padrĂŁo no clima do planeta neste ano: elas sĂŁo causadas, entre outros motivos, pelo efeito estufa e seu impacto no aquecimento global. Em Portugal e na Espanha, mais de 2.000 pessoas morreram de calor extremo ou incĂȘndios causados por ele, e vĂĄrios paĂses quebraram recordes de temperatura, como o Reino Unido e o JapĂŁo.
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Limite de calor e umidade que corpo humano suporta Ă© menor do que se pensava
Aliado a esses problemas, ainda hĂĄ outro dado apontado pela ciĂȘncia: aparentemente, nossos corpos nĂŁo suportam tanto calor quanto se pensava. O corpo humano consegue se adaptar a climas diferentes ao longo do tempo, e mudanças de temperatura muito sĂșbitas ou que ocorrem em Ă©pocas inesperadas â como ondas de calor no inverno â nos atingem com intensidades diferentes.
Mesmo assim, calores absurdos em 2022 como os 45 °C em Wardha, na Ăndia, ou 49,5 °C em Nawabshah, no PaquistĂŁo, sĂŁo difĂceis de aguentar em qualquer circunstĂąncia. Segundo cientistas, a exposição humana ao calor extremo triplicou de 1983 a 2016, especialmente no sul da Ăsia.
Temperaturas altas causam cãibras de calor, exaustão e insolação, que pode ser fatal, e a desidratação pode levar a problemas nos rins e coração: o calor ainda pode aumentar a agressividade e diminuir nosso foco. Além disso, problemas estruturais podem surgir em construçÔes e linhas de trem, por exemplo, caso não estejam preparadas para temperaturas muito elevadas.
Como o corpo resiste ao calor?
HĂĄ vĂĄrias tĂĄticas utilizadas pelo nosso corpo para se livrar do excesso de calor e deixar a temperatura ideal para seu funcionamento, 37 °C. O coração bate mais rĂĄpido, acelerando o fluxo sanguĂneo que leva o calor Ă pele, que Ă© esfriada pelo ar. O arrefecimento evaporativo, ou suor, Ă© outra dessas tĂĄticas. Mas hĂĄ um limite para o quanto podemos aguentar.
Temperatura de bulbo Ășmido
Em 2010, pesquisas mostraram que o limite de estresse tĂ©rmico suportado pelo corpo seria de uma temperatura de bulbo Ășmido de 35 °C. Essa temperatura depende de uma combinação de umidade e temperatura do ar seca medida por um termĂŽmetro: ela pode ser medida ao embeber um pano em ĂĄgua, colocĂĄ-lo sobre um termĂŽmetro e registrar a temperatura marcada por ele nessas condiçÔes.
A temperatura de bulbo Ășmido de 35 °C pode ser atingida de vĂĄrias formas diferentes: uma delas Ă© quando a temperatura do ar estĂĄ a 35 °C e a umidade a 100%; outra, quando a temperatura do ar estĂĄ a 46 °C e hĂĄ 50% de umidade. O arrefecimento por evaporação Ă© o responsĂĄvel por essa diferença. Ao evaporar da nossa pele ou de outra superfĂcie, a ĂĄgua tira energia atravĂ©s do calor e resfriando o local de onde sai.
Quanto calor aguentamos?
NĂŁo hĂĄ uma medida universal para o quanto nosso corpo aguenta em termos de temperatura: nenhum organismo funciona a uma eficiĂȘncia de 100%, e fatores como tamanho, idade, habilidade de suar, aclimatização ambiental e clima regional influenciam na conta. Cientistas, entĂŁo, resolveram fazer mais testes, que incluĂram participantes de 18 a 34 anos, e os colocaram em diversos climas controlados.
Em uma cĂąmara ambiental, a temperatura foi mantida constante, e a umidade, variada: em outros momentos do experimento, a umidade ficou constante e a temperatura variou. Os participantes se exercitaram apenas o suficiente para simular atividade mĂnima fora de casa, como caminhadas e pedaladas leves em uma bicicleta. Foi 1,5 hora de experimentos com medidas de temperatura tiradas da pele com sondas sem fio e pĂlulas de telemetria engolidas pelos sujeitos.
Em condiçÔes Ășmidas e quentes, a tolerĂąncia ao calor medida pelos cientistas numa temperatura de bulbo Ășmido foi de 30 °C a 31 °C. Um clima seco e quente mostrou nĂșmeros ainda menores, de 25 °C a 28 °C. Um clima muito seco com 10% de umidade, por exemplo, resultaria em uma temperatura de bulbo Ășmido de 25 °C apenas quando a temperatura do ar estivesse a 50 °C.
Os cientistas afirmam que ainda hĂĄ muito a se entender sobre nossa tolerĂąncia ao calor, mas que o estudo de 2010 pode ter encontrado â teoricamente â a temperatura de 35Âș C como sendo o teto de temperatura, e o novo estudo, publicado em fevereiro no periĂłdico Journal of Applied Physiology, o piso que suportamos, ou seja, a margem de erro menor. Vale lembrar que os nĂșmeros vĂȘm de adultos jovens e saudĂĄveis, realizando atividades fĂsicas mĂnimas.
Ondas de calor pelo mundo
Embora o achado mostre que sofremos perigos maiores do que se imaginava com o aumento de temperaturas no planeta, atĂ© 2020 havia poucos reportes de temperaturas de bulbo Ășmido chegando a 35 °C, mas algumas simulaçÔes mostram o limite sendo extrapolado regularmente em regiĂ”es do sul asiĂĄtico e Oriente MĂ©dio atĂ© 2050.
Neste ano, a Europa viu o calor chegar com uma força pouco vista anteriormente. No Reino Unido, um recorde foi batido em 19 de julho, quando os termĂŽmetros chegaram a 40,3 °C na vila de Coningsby; na França, o calor causou incĂȘndios e evacuaçÔes. Em junho, o JapĂŁo viu seu pior calor desde 1875, quando a temperatura começou a ser registrada, com 40,2 °C.
China e os Estados Unidos tambĂ©m sofreram, com temperaturas passando dos 40 °C de Xangai a Chengdu e North Platte chegando a 42 °C, Phoenix, a 45,6 °C. Embora ainda nĂŁo tenhamos chegado no verĂŁo, o Brasil jĂĄ teve um gostinho das ondas de calor: segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), SĂŁo Paulo teve o mĂȘs de julho mais quente desde 1943. A tendĂȘncia, atĂ© o final do ano, Ă© que tenhamos um calor ainda mais intenso.
O que fazer?
Uma das medidas apontadas por especialistas e jĂĄ tomadas por algumas cidades pelo mundo â como Sevilha, na Espanha, e Atenas, na GrĂ©cia â Ă© monitorar e nomear ondas de calor extremo, o que pode ajudar na conscientização de cidadĂŁos e governos e incentivar medidas para lidar com a severidade da temperatura.
Em 24 de julho, com uma temperatura de 42 °C, Sevilha foi a primeira cidade do mundo a nomear oficialmente o evento, chamado de Onda de Calor Zoe. à medida que o planeta esquenta, nomeaçÔes como essa se tornarão cada vez mais comuns, e os alertas quanto às mudanças climåticas ficarão cada vez mais sérios. Resta pensarmos em quais atitudes tomar para aliviar o aquecimento global.
Fonte: Canaltech
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