O problema com a cultura de produtividade nas empresas

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Foto: Getty Images
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O mundo atual está obcecado pela produtividade. Do biohacking a banhos de gelo matinais, somos bombardeados constantemente com técnicas novas e duvidosas que prometem aumentar a eficiência no trabalho.

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Não há nada de errado em tentar aumentar a produtividade. Muitas pessoas têm rotinas que ajudam a aproveitar o dia ao máximo, como tomar café, fazer exercícios ou meditar, afinal de contas, ter o melhor desempenho com cargas de trabalho pesadas pode ser fundamental para pagar as contas e avançar na carreira.

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No entanto, o problema surge quando a necessidade de estar sempre fazendo alguma coisa passa a ser a prioridade máxima, não importa a que custo.

Uma pesquisa destacou vários aspectos negativos da cultura da produtividade, como a Síndrome de Burnout, um estado de estresse crônico provocado pelo excesso de trabalho, que é bastante comum. Os problemas de saúde mental são cada vez mais frequentes no ambiente de trabalho. Em vez de incentivar as pessoas a trabalhar da melhor maneira possível, a busca pela produtividade pode estimular inseguranças e ter efeitos negativos sobre o bem-estar.

"Essa necessidade pode prejudicar a saúde física e mental, porque faz as pessoas deixarem de lado coisas essenciais para ser saudáveis, felizes e funcionais”, explica Katie Driver, membro do Life Coach Directory. “Essa produtividade toda esgota o tempo que temos para passear, sonhar, fazer refeições saudáveis, conversar com os amigos e nos divertir, tudo o que nos torna seres humanos mais completos. Quando não acompanhamos o ritmo exigido, nos sentimos culpados e fracos, quando na verdade deveríamos comemorar".

Vamos analisar o exemplo de um profissional que passa o dia todo no escritório de uma empresa que valoriza a produtividade. Provavelmente, esse funcionário passa muito tempo sentado, não se exercita, fica menos ao ar livre e tem dificuldades para dormir.

"É provável que ele sinta uma pressão mental constante para ser produtivo, priorizar tarefas mensuráveis em vez de definir o que seria mais útil, esconder os erros sem aprender com eles e continuar trabalhando a qualquer custo", diz Katie. "Com o tempo, a combinação entre sedentarismo e estresse permanente passa a ser tóxica, aumentando o risco de problemas cardíacos, diabetes, depressão, ansiedade e muitas outras doenças".

Mesmo nas horas vagas, a pressão é cada vez maior para aperfeiçoar nossas habilidades. O descanso, apesar de essencial para a saúde, não é visto com bons olhos, e acabamos nos sentindo culpados por tirar um tempo para nós mesmos. Muitas pessoas não conseguem se desconectar do trabalho, a menos que estejam fazendo alguma outra coisa produtiva.

De onde veio essa cultura prejudicial de produtividade e como é possível manter a ética de trabalho com saúde?

Desde a década de 1970, as economias do Reino Unido, dos EUA e do Canadá adotaram o neoliberalismo, um sistema econômico em que o "livre mercado" se estende a todos os aspectos da vida, públicos ou pessoais. Teoricamente, é um sistema baseado no mérito, que recompensa notas altas, bons diplomas e bons empregos, mas pune a falta de competitividade e o fracasso.

Com menos proteções, os funcionários sofrem pressão para ter o melhor desempenho nesse ambiente ultracompetitivo. Dentro dessa lógica, ser o mais produtivo possível, com resultados quantificáveis, é o único caminho para evitar o fracasso.

No entanto, os indicadores tradicionais de produtividade no ambiente de trabalho, como trabalhar mais horas, fazer menos pausas e tirar menos folgas, na verdade são contraproducentes.

"O tempo 'não produtivo' é fundamental para a produtividade", explica Katie. "Quando paramos de trabalhar, o cérebro pode refletir, consolidar informações, imaginar novas possibilidades e outras coisas incríveis. O aprendizado e as memórias são aperfeiçoados com o descanso, mas isso pode não acontecer se não fizermos pausas. As novas ideias e conexões se formam quando divagamos, não quando estamos debruçados sobre uma tela".

A obsessão pela produtividade não reconhece que todas essas outras coisas são desejáveis, além de nos tornar mais produtivos porque, assim, trabalhamos renovados, com mais inspiração e determinação.

"A cultura da produtividade ganhou mais destaque recentemente por causa do foco cada vez maior nos resultados de curto prazo e lucros", acrescenta ela. "Além disso, é cada vez mais fácil rastrear absolutamente tudo o que o funcionário faz durante o dia, especialmente quando não existe a confiança de que ele faça tudo o que tem que fazer por conta própria".

O problema é que a qualidade e a eficiência do pensamento e da criatividade não são aspectos fáceis de acompanhar ou medir.

"Quando alguém está pensando em como resolver um problema, parece que não está fazendo nada. Não vemos a pessoa digitar ou fazer uma ligação", explica Katie. "As empresas não pensam no que as pessoas precisam para ter boas ideias, elas simplesmente supõem que isso acontece de forma automática".

Lydia Smith

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