Mercado diverge sobre fim do ciclo de alta de juros e espera sinais do BC
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BRASĂLIA, DF (FOLHAPRESS) - Ă consenso entre os economistas que o Copom (ComitĂȘ de PolĂtica MonetĂĄria) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira (4), uma nova alta de um ponto percentual da taxa bĂĄsica de juros (Selic), de 11,75% para 12,75% ao ano. No entanto, a previsibilidade nĂŁo se aplica Ă s expectativas do fim do ciclo do aperto monetĂĄrio.
A mediana das estimativas da pesquisa Focus, que mostra as estimativas de analistas ouvidos pelo Banco Central, é de uma Selic em 13,25% ao ano em 2022. No entanto, alguns jå veem risco de a taxa avançar acima de 14%, enquanto aqueles que não estão vinculados ao mercado financeiro consideram que o BC jå foi até longe demais.
"A incerteza [do mercado] é com relação à comunicação do BC para junho, se ele vai, de fato, fechar a porta para alteraçÔes na Selic ou se vai continuar subindo a taxa de juros", diz Lucas Vilela, economista do Credit Suisse no Brasil.
Em março, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicou a intenção de encerrar o ciclo de alta de juros com a Selic em 12,75% ao ano. Mais tarde, chegou a dizer que a autoridade monetĂĄria iria analisar a "surpresa" no IPCA daquele mĂȘs para ver se mudava a rota, mas nĂŁo voltou a se pronunciar.
Com base na deterioração do cenĂĄrio de inflação atual e prospectivo, Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconĂŽmica do Santander, vĂȘ a possibilidade de o BC alterar seu plano de voo, fazendo um ajuste residual de 0,50 ponto na reuniĂŁo de junho, alĂ©m da alta desta semana. Com isso, a Selic iria a 13,25% ao ano ao fim do ciclo.
"A gente acredita que o Banco Central vai acabar revisando para cima a projeção de inflação naquele cenårio mais provåvel, com o petróleo a US$ 100, isso particularmente em razão das expectativas, que subiram para 2022 e também para 2023", afirmou.
O risco de desancoragem das expectativas, diante de uma inflação que pode se tornar inercial e de novas pressÔes com os lockdowns na China, exige um esforço adicional do BC, na visão de Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos.
Para ele, a autoridade monetĂĄria encerrarĂĄ o ciclo do aperto monetĂĄrio em junho, com duas altas consecutivas de um ponto percentual da taxa de juros, chegando a 13,75%.
"A inflação estĂĄ perto do seu pico, mas Ă© um nĂvel muito alto ainda. Se o BC nĂŁo for cauteloso, como tem sido, corre o risco de que essa inflação mais alta fique consolidada por um pouco mais de tempo", afirmou.
"O fato de a inflação estar chegando a um platĂŽ nĂŁo significa necessariamente que possa parar e deixar o ajuste jĂĄ realizado surtir efeito. Me parece que nĂŁo Ă© o momento de baixar a guarda", acrescentou em referĂȘncia ao impacto defasado da polĂtica monetĂĄria sobre a economia.
Com um prognĂłstico de inflação mais elevado (8,3% em 2022 e 4,6% em 2023), o Credit Suisse prevĂȘ a Selic a 14% ao fim do ciclo. AlĂ©m da elevação de um ponto percentual em maio, adiciona tambĂ©m uma alta de 0,75 ponto em junho e um ajuste de 0,50 ponto em agosto.
Sobre os prĂłximos passos, o banco suĂço espera a indicação de uma nova elevação da Selic no encontro seguinte, em 14 e 15 de junho, sem explicitar sua magnitude.
"Em um momento de incerteza muito grande, o BC poderia prezar por menos clareza e ir avaliando os resultados ao longo das reuniÔes."
Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, considera que o Copom deveria ser "um pouco menos assertivo" em relação aos próximos movimentos. "Se por um lado o Banco Central tem feito um bom trabalho em analisar o cenårio, a comunicação é onde ele pode melhorar. Essa comunicação de coisas que a gente não tem muita certeza acaba atrapalhando a coordenação das expectativas", disse.
Nas projeçÔes do banco francĂȘs, o BC vai efetuar novos aumentos na Selic nos prĂłximos meses, dado que o processo de convergĂȘncia da inflação para a meta deve demorar mais do que o previsto para acontecer. A expectativa Ă© de aumento de um ponto percentual tanto em maio quanto em junho, e elevação de 0,5 ponto em agosto. Assim, a taxa de juros encerraria o ciclo em 14,25%.
Apesar da divergĂȘncia no patamar da Selic ao fim do ciclo do aperto monetĂĄrio, a necessidade de continuar subindo a taxa de juros Ă© consensual entre analistas vinculados ao mercado financeiro. Mas, no meio acadĂȘmico, economistas tĂȘm a avaliação de que continuar aumentando a Selic nĂŁo Ă© a melhor estratĂ©gia para conter a inflação no atual cenĂĄrio.
Tanto Lauro Gonzalez, da FGV (Fundação Getulio Vargas), quanto JosĂ© LuĂs Oreiro , da UnB (Universidade de BrasĂlia), citaram a visĂŁo de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, sobre a pouca influĂȘncia do instrumento de polĂtica monetĂĄria para conter uma inflação importada.
"Esse aumento de juros não vai ter efeito sobre a inflação e vai transferir renda do resto da sociedade para os mais ricos", afirmou Oreiro.
Na avaliação do economista, para que a elevação da Selic surtisse o efeito esperado, seria preciso atingir um patamar acima de 20%, o que produziria uma profunda recessão econÎmica.
"O nĂvel de misĂ©ria, de desemprego, de gente desalentada estĂĄ enorme, vocĂȘ pode reduzir a inflação dessa maneira, mas vai destruir a economia brasileira nesse processo."
Segundo Oreiro, outro mecanismo que poderia ajudar no combate Ă inflação Ă© uma grande valorização da taxa de cĂąmbio. Em abril, o dĂłlar desceu ao patamar de R$ 4,60, a menor cotação nos Ășltimos dois anos. Mas a tendĂȘncia durou pouco, e a moeda americana jĂĄ voltou a operar acima de R$ 5 -nesta terça (3), a moeda caiu 2,1% e fechou a R$ 4,96.
Para Gonzalez, o BC deveria aguardar os efeitos da subida de juros, que passou de 2% a 11,75% ao ano após nove altas consecutivas, e reavaliar a situação no decorrer do segundo semestre.
Em um cenårio em que a taxa de juros jå estå elevada, de renda deprimida, do mercado de trabalho muito aquém do necessårio, com desemprego elevado, até que ponto isso tudo não justificaria uma espera para verificar se os componentes de demanda da inflação estão tendo um papel que justifique um novo aumento de juros", afirmou.