Intel investirá mais de R$ 100 bilhões para 'resolver' crise dos chips

·5 min de leitura
Crise dos chips: aumentar a produção nos EUA tem sido o foco de legisladores e empresas em meio à escassez global de componentes cruciais
Crise dos chips: aumentar a produção nos EUA tem sido o foco de legisladores e empresas em meio à escassez global de componentes cruciais (REUTERS/Andrew Kelly)
  • Intel pressionou Congresso para aprovar incentivos destinados a aumentar a produção doméstica

  • Empresa pode investir até US$ 100 bilhões (mais de R$ 540 bi) ao longo de uma década

  • Participações de EUA e Europa na produção global de chips caiu muito nos últimos anos

A Intel selecionou Ohio para um novo complexo de fabricação de chips que custaria pelo menos US$ 20 bilhões (pouco mais de R$ 100 bi), intensificando um esforço para aumentar a produção de chips de computador nos EUA à medida que os usuários lutam contra uma escassez persistente de componentes vitais. A empresa disse, nesta sexta-feira (21), que o novo local perto de Columbus teria inicialmente duas fábricas de chips e empregaria diretamente três mil pessoas - ao mesmo tempo em que criaria empregos adicionais na construção e em empresas próximas.

Patrick Gelsinger, que se tornou presidente-executivo da Intel no ano passado, aumentou rapidamente os investimentos da empresa em manufatura para ajudar a reduzir a dependência dos EUA de fabricantes estrangeiros de chips, enquanto pressionava o Congresso para aprovar incentivos destinados a aumentar a produção doméstica de chips.

Leia também:

Investimento deve aumentar

Ele disse que a Intel pode investir até US$ 100 bilhões (mais de R$ 540 bi) ao longo de uma década em seu próximo campus de fabricação nos EUA, vinculando o escopo e a velocidade dessa expansão aos subsídios federais esperados se o Congresso aprovar um pacote de gastos conhecido como Lei CHIPS. De acordo com a própria Intel, o presidente Biden se reunirá com Gelsinger na Casa Branca nesta sexta-feira para discutir o projeto.

Movimento geopolítico

O movimento da Intel tem implicações geopolíticas, bem como importância para as cadeias de suprimentos. Os chips, que atuam como cérebros de computadores e muitos outros dispositivos, são fabricados em grande parte em Taiwan, para o qual a China expressou reivindicações territoriais. Durante a pandemia, eles também estão em falta devido à demanda esmagadora e interrupções relacionadas ao Covid na fabricação e no fornecimento de mão de obra, levantando questões sobre como garantir um pipeline consistente de chips.

Novas fábricas da Intel

A mudança é a primeira da Intel a um novo estado de fabricação em mais de 40 anos. A empresa, com sede no Vale do Silício, tem fábricas nos EUA em Oregon, Novo México e Arizona. Em março passado, Gelsinger escolheu um complexo existente perto de Phoenix para uma expansão de US$ 20 bilhões (mais de R4 100 bi), que está em andamento - dizendo, ainda, que seria necessário um novo local para fornecer mais mão de obra, água, energia elétrica e outros recursos para o complexo processo de fabricação de chips. O local escolhido para a nova fábrica, em New Albany, um subúrbio a leste de Columbus, fica em uma área conhecida por terrenos e moradias baratos.

Produção terá início em 2025

A construção das duas primeiras fábricas deve começar ainda este ano, com a produção começando em 2025, segundo a Intel. O local tem espaço suficiente para abrigar até oito fábricas e operações relacionadas, disse a Intel. “As novas instalações da Intel serão transformadoras para nosso estado, criando milhares de empregos bem remunerados em Ohio, fabricando semicondutores estrategicamente vitais”, disse Mike DeWine, governador de Ohio, em um comunicado à imprensa.

"Culpa" não é só da pandemia

Embora a escassez esteja parcialmente enraizada na pandemia, outro fator de longo prazo foi a mudança da fabricação de chips para países asiáticos que oferecem subsídios a empresas que constroem fábricas por lá. Os Estados Unidos, por sua vez, respondem por cerca de 12% da produção global de chips, ante 37% em 1990. Já a participação da Europa caiu de 40% para 9% nesse período. Muitos dos chips mais avançados vêm da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, cuja proximidade com a China tem preocupado as autoridades do Pentágono.

Auxílio do governo dos EUA

A legislação aprovada pelo Senado com apoio bipartidário em junho passado forneceria US$ 52 bilhões (pouco mais de R$ 280 bi) em subsídios para a indústria de chips, incluindo subsídios para empresas que construíssem novas fábricas nos EUA. Desde então, o pacote foi pego na disputa da Câmara sobre as prioridades do governo Biden - embora Gelsinger e outros tenham dito que esperam que ele seja aprovado nos próximos meses. Na Europa, Gelsinger também pressionou autoridades por um pacote semelhante de subsídios que poderia ajudar na construção de uma grande nova fábrica da Intel no país, com um preço projetado comparável ao da expansão dos EUA.

Outras empresas na briga

A Intel não é a única empresa a expandir a produção nos EUA. T.S.M.C. iniciou a construção no ano passado de um complexo de US$ 12 bilhões (cerca de R$ 65 bi) 80 quilômetros próximo da fábrica da Intel, perto de Phoenix. A Samsung Electronics selecionou Taylor, Texas, para uma fábrica de US$ 17 bilhões (mais de R$ 92 bi), com construção prevista para começar em 2022. A estratégia de Gelsinger baseia-se em parte na aposta de que a Intel pode rivalizar com o T.S.M.C. e Samsung na fabricação de chips sob encomenda para outras empresas. Durante a maior parte de sua existência, a Intel construiu apenas os microprocessadores e outros chips que projeta e vende.