Incertezas sobre a contraofensiva de Kiev contra os russos

Edifício residencial em Irpin, arredores de Kiev, em 13 de maio de 2023
Edifício residencial em Irpin, arredores de Kiev, em 13 de maio de 2023

Apesar de a Ucrânia anunciar há meses uma contraofensiva para recuperar os territórios conquistados pela Rússia, ninguém pode dizer com certeza se realmente começou, enquanto continuam os combates e as declarações.

Após a ofensiva russa deste inverno, que não teve grandes efeitos na linha de frente, o Ocidente espera que Kiev recupere a iniciativa no plano militar.

- Bakhmut, o epicentro -

A batalha pela cidade de Bakhmut, na região do Donbass, é a mais sangrenta e longa desde que começou a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022.

A Ucrânia disse no domingo ter retomado "mais de dez posições russas" nos arredores de Bakhmut (leste), epicentro dos combates há vários meses e cenário nos últimos dias de um avanço ucraniano pelos laterais das defesas russas.

Kiev afirma ter avançado nos arredores de Bakhmut, pela primeira vez em vários meses, enquanto a Rússia disse estar avançando na própria cidade, que controla em sua maior parte.

"Eu me inclinaria pela interpretação de que a Ucrânia está tentando fixar as forças russas em Bakhmut, para obrigá-las a permanecer em um ponto definido da linha de frente enquanto as tropas ucranianas consideram várias zonas" para atacar, aponta Ivan Klyszcz, investigador do Centro Internacional de Defesa e Segurança (ICDS) da Estônia. 

- A Rússia está preparada -

As forças russas passaram há várias semanas a uma estratégia defensiva, com uma defesa de mais de 800 quilômetros, às vezes de três linhas de profundidade, e um grande número de soldados para mantê-las.

Este dispositivo inclui valas antitanques, cercas, linhas de defesa pré-fabricadas como os chamados "dentes de dragão" (pequenas pirâmides antitanques de concreto) e trincheiras para soldados.

Por isso, a contraofensiva será muito mortal e cara em equipamentos para o Exército da Ucrânia.

Porém, é possível que os ucranianos já tenham realizado alguns exercícios para avaliar a eficácia das defesas russas.

"A Ucrânia já realizou contraofensivas locais em Bakhmut e seus arredores para fazer os russos recuarem e avaliarem as defesas da região", afirma Lucas Webber, cofundador do site web especializado em investigação Militant Wire.

"É difícil dizer se a contraofensiva real planejada já começou, mas estas ações sugerem que a Ucrânia está planejando algo muito maior", afirma.

- Várias possibilidades -

O grande comprimento da linha de frente não deixa claro o local escolhido para atacar a Ucrânia. A própria cidade de Bakhmut pode não ter interesse estratégico suficiente.

Porém, um contra-ataque no local "seria vergonhoso para o Kremlin e [o grupo paramilitar] Wagner, que já quase tomaram a cidade", disse Lucas Webber.

Kiev também poderia tentar liberar a central nuclear de Zaporizhzhia, no sudeste.

Há uma semana, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, expressou sua preocupação com uma situação "cada vez mais imprevisível e potencialmente perigosa" em torno da usina.

- Manipulações -

Como em todas as guerras, "cada parte está provavelmente tentando pressionar a outra para convencê-la a atacar onde parece mais frágil", observa Pierre Razoux, diretor acadêmico da Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos (FMES).

Indica que "as fases preparatórias da ação clandestina e da manobra de distração parecem estar muito avançadas em ambas as partes".

"Prova disso são as sabotagens cada vez mais frequentes em território russo próximo ao front e os ataques russos contra depósitos ucranianos de armas e munições", aponta.

As tentativas de desestabilizar o país estão em andamento por ambas as partes.

No domingo, o diário americano Washington Post, citando documentos confidenciais obtidos em um vazamento maciço no mês passado, afirmou que Yevgueni Prigozhin, o chefe do Wagner, ofereceu à Inteligência ucraniana informações sobre a localização de unidades do Exército russo em troca da retirada das forças de Kiev de Bakhmut.

Uma informação qualificada por Prigozhin, confrontado pelo Estado-Maior do Exército Russo, como "ridícula".

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