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Ibiuna prefere pouco envolvimento com ativos locais cautelosa com "novo governo, velhas ideias"

SÃO PAULO (Reuters) - A Ibiuna Investimentos, que tem entre seus sócios ex-diretores do Banco Central, decidiu manter o viés cauteloso e baixo envolvimento com ativos brasileiros no momento, citando fundamentos fiscais frågeis, que unem endividamento elevado, baixo crescimento potencial e altos juros reais.

"Novo governo, velhas ideias. Tudo o que vimos na ĂĄrea econĂŽmica durante o perĂ­odo de transição aponta para uma diretriz similar ao implementado pelo governo do PT no perĂ­odo 2011-2015 com resultados amplamente conhecidos", afirmou em carta a clientes, com perspectivas para o primeiro mĂȘs de 2023.

Como uma "pequena amostra", a gestora elenca forte expansão de gastos correntes, alta da carga tributåria, busca de crescimento via intervenção estatal, reversão de privatizaçÔes, a volta do crédito subsidiado, tentativa de reversão ou enfraquecimento de marcos legais importantes, entre outros.

"DifĂ­cil ver como essa agenda elevarĂĄ a produtividade da economia e resultarĂĄ em maior crescimento sustentado", afirmou, destacando a forte elevação de prĂȘmios de risco e um aperto adicional relevante de condiçÔes financeiras, acentuando a tendĂȘncia de esfriamento da economia brasileira em 2023.

Esse ambiente, afirma, justifica a continuidade de uma postura de cautela e baixo envolvimento com os ativos brasileiros nesse momento. Apesar dos prĂȘmios de risco elevados, vĂȘ a gestora, os fundamentos fiscais sĂŁo frĂĄgeis, unindo endividamento elevado, baixo crescimento potencial e altos juros reais.

"Essa Ă© reconhecidamente uma combinação vulnerĂĄvel diante de um governo que foi eleito prometendo uma extensa agenda de gastos, tem urgĂȘncia em gastar mas nĂŁo parece ter pressa em avançar na definição de um regime fiscal consistente", avalia a Ibiuna, que tem pouco menos de 38 bilhĂ”es de reais sob gestĂŁo.

No exterior, especificamente Estados Unidos e Europa, a gestora, que tem no seu quadro os ex-BCs Rodrigo Azevedo e Mårio Torós, se mostra cética quanto a uma råpida desinflação e expectativa de taxas terminais de juros no corrente ciclo mais altas do que atualmente precificado pelos mercados.

"Jå na periferia do G10 e no mundo emergente, os ciclos de alta parecem ter colocado taxas de juros em patamar mais restritivo, criando condiçÔes para que, passado o pico da inflação, sua trajetória de queda se mostre mais consistente", acrescentou.

Para a Ibiuna, um risco relevante no radar Ă© o potencial impacto inflacionĂĄrio via commodities de uma reabertura rĂĄpida e consistente da China.

(Por Paula Arend Laier)