No Brasil, é possível construir um hospital em 10 dias?
Por Matheus Mans
Nas últimas semanas, o mundo está buscando meios de lidar com o surto de coronavírus em vários países e com casos já confirmados no Brasil. Na China, enquanto isso, o governo tem atuado de maneira rápida e focada, tentando impedir o crescimento descontrolado da infecção. Uma das medidas tomadas foi a construção de dois hospitais em apenas 10 dias.
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A informação sobre a agilidade dos chineses fez sucesso nas redes sociais e chocou muita gente. Afinal, construir um hospital do zero, em pouco mais de uma semana, é sonho distante para muitas pessoas. E aí surge a dúvida: será que é possível construir um hospital no Brasil, em apenas 10 dias, com a tecnologia que temos disponível em solo nacional?
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A resposta, segundo todos especialistas consultados pela reportagem, é unânime: sim. A tecnologia utilizada pelos chineses pode parecer extremamente disruptiva. Mas o fato é que ela é utilizada desde a década de 1960, quando a Europa ainda se recuperava dos estragos causados pela Segunda Guerra Mundial. Afinal, são prédios rápidos, baratos e seguros.
A própria China já se valeu da tecnologia em 2003, quando construiu um hospital em uma semana para ajudar no controle e tratamento de pessoas infectadas com o vírus SARS.
O grande desafio dos chineses na construção do hospital é pensar nas particularidades de cada ala, de cada setor, de cada problema dentro de um hospital. É preciso ter módulos preparados para raio-x, evitando a propagação de radiação; pensar num esgoto que não contamine o solo ou a região; pensar em alas isoladas para tratamento intensivo; etc.
“Os chineses primeiro deixaram o terreno plano e depois construíram uma fundação de concreto, chamada de radier. Pronto. O resto do hospital foi montado como peças de LEGO, usando módulos pré-montados”, explica João Carlos Gabriel, coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas. “Não é complicado”.
No Brasil, não haveria problema tecnológico na construção de um hospital, prédios ou coisas do tipo em 10 dias. O único entrave, é claro, fica restrito à papelada. “Vale lembrar que os chineses levaram 10 dias montando o prédio, não construindo”, aponta Raphael Chelin, da consultoria em construção Celere. “A fabricação dos módulos levou mais tempo”.
Módulos já são realidade e futuro
A agilidade na construção de edifícios já pode ser vista por meio de diferentes técnicas no Brasil. A construtora MRV, por exemplo, ao invés de usar pilar, vigas e tijolos, faz uma armadura de aço, coloca fiação e tubulação, para depois preencher tudo com concreto. “É muito mais rápido. Coisa de construir 5 andares em 20 dias”, afirma João Carlos Gabriel.
Já a startup Tecverde aposta, de fato, nos módulos. Eles possuem uma linha de fabricação, como se fossem de automóveis. Depois, levam as peças para onde serão construídos prédios, casos, hospitais, escolas e coisas do tipo. Segundo a empresa, 75% da construção é feita na fábrica, quadruplicando a velocidade da obra e reduzindo poluentes e resíduos.
“Hoje em dia temos um ou outro caso mais proeminente no Brasil de construção modular, mas isso vai determinar o futuro da engenharia civil”, afirma Nécio Constantino, pesquisador em inovações de construção civil da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Acredito que as startups do setor serão determinantes para o que veremos nos próximos 5 ou 10 anos”.
Para Raphael Chelin, da Celere, o modelo que os chineses popularizaram por meio da impressionante construção do hospital será característico da construção nos próximos anos. “Vai ter muito mais tecnologia envolvida com impressão 3D, automatização de processos. Menos fabricantes, mais montadoras. Menos artesanal, mais linha de montagem”, finaliza.