AFP
A Ucrânia anunciou nesta terça-feira (24) a demissão e destituição de vários governadores regionais e vice-ministros, no contexto do maior escândalo de corrupção desde o início da invasão russa. O país sofre com a corrupção endêmica há anos, mas os esforços para acabar com ela foram ofuscados pela guerra em grande escala que Moscou lançou em fevereiro.O presidente Volodymyr Zelensky defendeu na noite desta terça-feira o que chamou de "decisões necessárias" para ter "um Estado forte". “É justo, é necessário para a nossa proteção e ajuda a nossa aproximação das instituições europeias”, justificou, em seu discurso diário. “Todos os problemas internos que impedem o fortalecimento do Estado estão sendo resolvidos e serão ainda mais”, ressaltou.Os aliados ocidentais de Kiev, que forneceram bilhões de dólares em ajuda financeira e militar, pressionam por reformas contra a corrupção há anos, às vezes como pré-condição para a ajuda.Os Estados Unidos aplaudiram as "decisões rápidas e essenciais", segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, que prometeu uma "vigilância rigorosa" do uso da ajuda americana por Kiev.Oleg Nemchinov, funcionário de alto escalão do governo, anunciou nesta terça-feira a saída de cinco governadores regionais - em cujos territórios ocorreram combates ferozes -, e de quatro vice-ministros. São eles: os governadores da região de Dnipropetrovsk (centro), Sumy (nordeste), Zaporizhzhia e Kherson, no sul, assim como da região ao redor da capital, Kiev.Nemchinov também anunciou a demissão de um vice-ministro da Defesa, dois vice-ministros do Desenvolvimento Territorial e um vice-ministro de Política Social. O chefe adjunto da administração presidencial, Kyrylo Tymoshenko, e o vice-procurador-geral, Oleksiy Symonenko, também foram destituídos. O Ministério da Defesa havia anunciado horas antes a demissão do vice-ministro, Vyacheslav Shapovalov, responsável pelo apoio logístico do Exército e acusado de assinar contratos de alimentos a preços inflacionados.- Problema persistente -Na semana passada, os veículos de comunicação locais acusaram o Ministério da Defesa de ter assinado contratos a preços "duas ou três vezes superiores" aos vigentes para os alimentos básicos. O ministério disse em nota que as acusações eram "infundadas", mas que a saída de Shapovalov "preserva a confiança da sociedade e dos parceiros internacionais". Timoshenko, chefe adjunto da administração presidencial, também anunciou sua renúncia nesta terça-feira. Ele trabalhou com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, desde sua eleição em 2019 e supervisionou a política regional. O político publicou uma foto segurando uma carta de renúncia manuscrita, agradecendo ao presidente pela "oportunidade de fazer boas ações todos os dias e todos os minutos".Timoshenko esteve envolvido em vários escândalos durante seu mandato, inclusive em outubro do ano passado, quando foi acusado de usar um carro doado à Ucrânia para fins humanitários. A destituição do vice-procurador-geral Symonenko ocorre depois que a mídia noticiou que ele passou férias na Espanha neste inverno, aparentemente usando um carro de um empresário ucraniano. Em um discurso na segunda-feira, Zelensky anunciou "decisões de pessoal" em breve em vários níveis, dizendo que proibiu os funcionários de viajar para o exterior por motivos não relacionados ao trabalho. "Se eles agora querem descansar, vão descansar fora do serviço público", disse Zelensky.O vice-ministro ucraniano do Desenvolvimento das Comunidades, Territórios e Infraestruturas, Vasil Lozinski, foi demitido neste fim de semana por suspeita de ter recebido suborno para "facilitar" a compra de geradores a preços inflacionados, num contexto de escassez de energia elétrica após os ataques russos à rede de energia ucraniana.Segundo a União Europeia, as medidas anticorrupção são uma das principais reformas que a Ucrânia precisa para obter o status de país candidato à entrada no bloco.bur/pc/mb/aa/yr/lb