Empréstimo em alta: Por que há tantas novas empresas de crédito pessoal
Por Matheus Mans
De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), as 43 fintechs de crédito registadas no país receberam, em 2018, 6,4 milhões de pedidos de crédito de pessoas físicas e o total de crédito concedido foi de R$ 1,195 bilhão — 49% acima de 2017.
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É uma nova realidade no Brasil: o crédito não está mais concentrado apenas em grandes bancos. Nos últimos anos, as fintechs começaram a oferecer empréstimos para públicos ignorados pelas instituições tradicionais, com facilidades e juros menores.
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“O subsegmento de fintechs de crédito é o segundo maior no Brasil, ficando atrás apenas das fintechs de pagamento”, contextualiza Bruno Diniz, professor de fintech na Fundação Getúlio Vargas.
Segundo especialistas, é um setor que deve crescer ainda mais. Afinal, em 2018 o Banco Central criou dois novos tipos de instituições: Sociedades de Crédito Direto (SCD) e Sociedades de Empréstimos entre pessoas (SEP). Essa flexibilização nas regras permite mais espaço para empreendedores.
Cenário atual
Desde que as principais startups desse setor começaram a operar no Brasil, muita coisa se transformou. Hoje, as 43 fintechs de crédito veem um mercado mais maduro, próximo de investimentos que agilizam os seus processos e bem mais conectado com o público geral.
A fintech Geru é uma pioneira no mercado, já que iniciou suas operações em 2015. A empresa atua no mercado de crédito pessoal, disponibilizando valores de R$ 2 mil a R$ 50 mil. Desde então, já receberam mais de R$ 24 bilhões em pedidos de empréstimo com taxas de 2% a 8,2% — conforme análise de perfil do cliente, feita por um sistema inteligente.
Para Bruno Poljokan, CFO da startup, o setor enriqueceu muito em termos de ecossistema e aprendizado. Além disso, há mais facilidades técnicas para que o crédito circule livremente por todo o país. “Isso ajuda na dinâmica da captação de dados para análise mais qualificada de crédito, e no gerenciamento de riscos”, explica.
As rodadas de investimento de bancos de capital e aceleradoras também ajudou alguns nomes a crescer. É o caso da A BizCapital, que recebeu um aporte em 2018 de R$ 20 milhões liderado pela Quona Capita — especializado em fintechs. Com empréstimos para pequenas e médias empresas, a fintech já está em mil cidades e próximo de R$ 20 bilhões em solicitações de empréstimo.
“Quando começamos, o ecossistema que temos hoje de fundos de venture capital e de investidores anjo ainda crescia”, diz Francisco Ferreira, sócio-fundador. “Hoje, existem fundos brasileiros e internacionais prontos para ajudar empreendedores a crescer.”
Confronto com os bancos?
Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Transunion, em 2013, indicou que fintechs de crédito tinham 5% do mercado de empréstimos pessoais sem garantia. Em 2018, esse percentual já saltou pra 38%, tornando-se a categoria com maior representatividade nessa modalidade.
“Estamos num momento de transformação do setor, que está mudando de forma rápida”, diz Bruno, da FGV. “Aqui teremos um setor de crédito com mais alternativas criadas por fintechs, que irão crescer ainda mais com outras iniciativas regulatórias que estão por vir”.
As startups ressaltam, entretanto, que não são concorrentes diretas dos grandes bancos. Pelo contrário. “Somos uma plataforma agnóstica, aberta a qualquer player do mercado”, afirma Ricardo Kalichsztein, CEO e fundador da fintech Bom Pra Crédito.
A empresa fornece um marketplace de crédito, com ofertas de mais de 34 instituições financeiras. Segundo o empreendedor, já são mais de 6 milhões de usuários e cerca de R$ 500 milhões de empréstimos intermediados nos cinco anos de atividade de startup.
“As fintechs, através da adoção cada vez maior de tecnologias de ponta, terão um papel importante na democratização do crédito e na redução das taxas de juros”, afirma Ricardo.