ELA, a urgência em autorizar novos tratamentos quando todos os meses de vida contam
Para quem sofre da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a esperança de uma vida mais longa depende de novos tratamentos, no entanto, estes medicamentos mais avançados enfrentam uma morosa aprovação na Europa, onde pacientes correm para aproveitar um tempo que não podem perder.
"Quando temos certeza que vamos morrer, os pacientes e alguns médicos estão dispostos a correr riscos", conta à AFP Olivier Goy, diagnosticado com a doença em 2020.
O fundador da startup financeira October gasta cerca de US$ 3 mil (aproximadamente R$ 16 mil) por mês para comprar insumos e fabricar o seu próprio coquetel de medicamentos, diante da falta de tratamentos inovadores autorizados na França.
A ELA é uma doença degenerativa que ainda não tem cura. É conhecida por gerar a paralisia progressiva dos músculos que acaba por impossibilitar ações como andar, comer, respirar ou falar. As capacidades cerebrais e intelectuais, contudo, permanecem intactas.
Uma vez diagnosticada, a expectativa de vida dificilmente supera três ou cinco anos, mas certos tratamentos oferecem alguns meses de vida a mais aos pacientes.
É o caso do Riluzol, medicamento autorizado na década de 1990 e capaz de prolongar a vida dos pacientes em três meses. No entanto, nenhum outro tratamento foi aprovado na Europa em mais de duas décadas.
Uma possível solução pode vir dos Estados Unidos e Canadá, onde o novo medicamento AMX0035 foi aprovado recentemente.
É "a primeira esperança que tivemos em 20 anos: a primeira molécula que se dirige a todo o mundo e que resultaria em maior sobrevida", explica Sabine Turgeman, diretora da Associação Francesa de Pesquisa sobre ELA (ARSLA).
– "O tempo da doença não é o tempo dos remédios" –
Ainda assim, o interesse no componente permanece incerto, visto que as autoridades de saúde dos EUA decidiram aprová-lo com base em um único ensaio clínico sob um número limitado de pacientes.
O medicamento da fabricante americana Amylyx encomendou testes mais amplos e espera maiores informações para solicitar sua autorização na Europa. Mas para muito pacientes, o resultado chegaria muito tarde, já que os estudos levam cerca de dois anos até serem concluídos.
"Não avança rápido o suficiente. O tempo da doença não é o tempo dos remédios", adverte a diretora.
Na França, onde aproximadamente 8 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença, pacientes como Olivier Goy decidem levar os componentes ao exterior com o objetivo de fabricar seus próprios medicamentos. No entanto, este movimento pode gerar riscos à saúde, transtornos relacionados ao mercado ilegal e preços exorbitantes.
Para muitos, a única maneira de acessar tratamentos inovadores é participar de ensaios clínicos. Mas os critérios são muito restritos e é possível, apesar de tudo, acabar recebendo um placebo.
"Nos sentimos totalmente abandonados", diz Sophie Garofalo, irmã de um paciente com ELA.
Diagnosticado há cinco anos, ele não preenche os requisitos para participar de nenhum teste.
"Ele está disposto a aceitar qualquer coisa, apenas para tentar", mas não o deixam, denuncia Garofalo.
Algumas associações de pacientes exigem critérios menos seletivos e maior flexibilidade nas regras de acesso a estes novos tratamentos.
"O tempo é muito limitado. No caso da ELA e no interesse dos pacientes, devemos poder ter um dispositivo e flexibilidade um pouco diferentes", diz Alain Moussy, diretor do laboratório AB Science.
Os primeiros resultados de seu tratamento com masitinibe, ainda em desenvolvimento, mostram um aumento nos meses de sobrevida, além de efeitos benéficos às funções motoras de certos pacientes.
"Quanto risco deve ser corrido? Depende dos órgãos (de saúde pública), mas eles podem ser orientados por lideranças políticas e pacientes", argumenta Moussy.
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