A eficácia da propaganda russa
O Ocidente considera a guerra na Ucrânia uma agressão imperial da Rússia.
Na Rússia, alguns cidadãos ousaram partilhar abertamente a mesma visão. Nos primeiros meses de guerra registaram-se protestos, rapidamente abafados pelo regime.
Agora, uma parte significativa da sociedade russa considera estar perante uma "guerra contra o Ocidente”. Essa é pelo menos a propaganda do Estado.
Como é que a população russa se tornou permeável à narrativa do Kremlin?
Para a doutoranda Universidade do Sul da Florida, Evgeniya Pyatovskaya, “a era soviética desempenhou um grande papel ao não educar as pessoas a pensar por elas próprias e a serem críticas. As pessoas não tiveram tempo para aprenderem a ter um pensamento crítico, um pensamento independente. Não tiveram tempo para se aperceberem que podem questionar o poder, e que isto é normal.”
A propaganda russa actual é muito diferente da propaganda soviética. Embora recorra a muitos componentes tradicionais, a abordagem técnica é bastante diferente, o que torna difícil contrariar a propaganda actual mesmo estando imune à propaganda soviética, como refere Anton Shirikov, cientista político na Columbia University:
“A propaganda moderna na Rússia é, em muitas formas, mais eficaz do que a da era soviética. Entre outras coisas, tem em linha de conta que as pessoas podem obter informação a partir de várias fontes, e tenta apresentar uma imagem que não beneficia necessariamente as autoridades, mas aquela que os cidadãos gostariam de ver.”
Os especialistas com quem falámos referem, no entanto, ser possível que muitos russos não adiram à narrativa do Kremlin nem apoiem a guerra, que apenas tenham medo de expressar as suas opiniões por recearem uma retaliação.
Mas não é só o medo que fomenta este silêncio. Ainda durante o regime soviético e depois com a chamada democracia russa dos anos 90 muitos russos tornaram-se apolíticos. Além de se distanciarem dos governos, decidiram viver numa espécie de realidade paralela às dos governos. Assim, a guerra, enquanto não os afectar a si nem às suas famílias, não lhes diz respeito.