Educação digital: como a crise do coronavírus vai transformar o ensino
Por Matheus Mans
O Colégio Poliedro, que conta com unidades em Campinas, São José dos Campos e São Paulo, precisou mudar suas aulas da noite para o dia. Durante a quarentena do novo coronavírus, a escola passou a ter aulas ao vivo, videoaulas, tutoriais e exercícios online, além de professores com interação digital.
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Na unidade de São José dos Campos, por exemplo, o Poliedro mobilizou os seus 62 professores para gerar conteúdo para os 650 alunos do sexto ao nono ano. Em suas casas, professores gravam vídeos de 30 minutos sobre o tema estabelecido e disponibilizam numa espécie de sala de aula virtual. Por semana, são geradas, em média, 40 horas de vídeos.
Como o novo coronavírus está mudando o mundo
"Nosso objetivo é minimizar, ao máximo, o impacto da restrição social e proporcionar uma rotina de estudos semelhante das aulas presenciais. O conteúdo segue uma grade definida pela coordenação pedagógica, alinhado com o cronograma didático estabelecido para o ano", explica Luís Gustavo Megiolaro, diretor pedagógico adjunto do Colégio Poliedro.
A situação não é exclusiva. Ao redor do país, escolas de todos os tipos e graus de ensino estão buscando formas digitais de manter os estudos por conta do avanço do coronavírus.
Ensino superior já puxava a fila do EaD
O Brasil já vivia há alguns anos a relevância do ensino à distância aumentar no ensino superior. Segundo o Censo EAD.BR, da Associação Brasileira de Educação à Distância (ABED), o número de estudantes em EaD cresceu 20% apenas em 2018, saltando para 9,4 milhões de pessoas. A expectativa é que existam mais alunos fazendo graduação à distância do que presencialmente em dois anos.
“Hoje, todas as grandes instituições de ensino já aderiram à educação digital”, afirma Luiz Alberto Ferla, CEO do DOT digital group, que fornece soluções de EaD. “Isso passou a se acelerar mais nas últimas duas semanas, em razão da quarentena. As pessoas têm recebido isso muito bem”.
Mudança de ares
O empreendedor Jan Krutzinna está à frente da startup ChatClass, empresa que fornece uma solução, baseada em inteligência artificial, que ensina inglês pelo WhatsApp. Para isso, os alunos entram na plataforma e, com áudio e texto, travam conversas com o ‘robô’.
Krutzinna, que está trabalhando com esse setor há seis anos, já percebe uma mudança de panorama. No entanto, mais do que manter o aluno apenas em casa, o empreendedor vê uma mistura de modelos: em algumas tarefas e exercícios, digital; em outras, salas de aula.
“Escolas e faculdades estão agilizando a contratação de ferramentas EaD para seguirem o ano letivo. Depois dessa crise, a meu ver, cria-se uma cultura de agregar o ensino à distância ao ensino em sala, resultando em um modelo híbrido que veio para ficar”, afirma o empreendedor. “As instituições perceberam a necessidade de investimento em tecnologia”.
A Dragonlearn, enquanto isso, fornece uma plataforma de ensino infantil, voltado para crianças menores. A ideia é que os pequenos alunos aprendam com exercícios gamificados, mais fáceis de entender e de prender a atenção. Na quarentena, a startup fez uma doação de 2 milhões de licenças na rede estadual e recebeu 25 mil cadastros.
Apesar do bom momento, Frederico Faria, diretor da empresa, chama a atenção para algo importante: a compreensão da realidade de cada um. “Na educação básica e setor público, as famílias não têm condições de disponibilizar bons equipamentos e conexão de internet de qualidade. É preciso capacitar e preparar a infraestrutura”, diz.
Barreiras em cursos tradicionais
A MedRoom, enquanto isso, tenta quebrar um tabu: emplacar o ensino à distância nos cursos de medicina. Assim como na área de direito, há resistência por parte dos profissionais em dar aulas digitais.
A startup aplica uma solução em realidade virtual para aulas de temas complexos a distância e ao vivo. Os professores ficam responsáveis pela ferramenta VR, enquanto os alunos participam da discussão vendo as peças anatômicas em 3D e o material do didático. Até agora, o feedback tem sido positivo tanto de professores quanto de alunos de medicina.
“Vejo um cenário plural: aulas presenciais, à distância, conteúdos virtuais e reais. A educação trabalha com diferentes tipos de mensagem, com necessidades diferentes e que necessitam de mídias diferentes”, diz Vinícius Gusmão, CEO da startup.
“Não faz mais sentido chamarmos de Educação à Distância. É um termo que não comporta mais o tamanho desse tipo de educação. Como um ensino que pode acontecer para todos, que junta as pessoas, é chamado de ‘à distância’”, diz a coordenadora. “Já passamos disso. Agora temos que pensar na Educação Digital. Mais integradora, mais real. O nosso futuro”, finaliza Míriam Rodrigues, coordenadora dos cursos superiores em Tecnologia EaD do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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