Denunciada tentativa de intimidação à imprensa na Guatemala após fechamento de jornal

Protesto pelo fechamento do jornal 'El Periódico', em frente ao Palácio de Justiça, na Cidade da Guatemala
Protesto pelo fechamento do jornal 'El Periódico', em frente ao Palácio de Justiça, na Cidade da Guatemala

Um ex-relator de liberdade de expressão da ONU denunciou, nesta segunda-feira (15), ameaças e tentativas de intimidação da imprensa na Guatemala, após o fechamento de um jornal crítico do governo, cujo dono enfrenta um julgamento polêmico por lavagem de dinheiro.

O "El Periódico" anunciou na semana passada seu fechamento ante "a pressão econômica e perseguição criminal" que enfrenta após a prisão de seu dono e fundador, José Rubén Zamora, preso há 10 meses.

“É uma ameaça a toda a imprensa nacional: aqui na Guatemala não será permitido que se publiquem opiniões críticas ou um jornalismo investigativo sério", disse à AFP o advogado Frank La Rue, relator da ONU entre 2008 e 2014. “Esta é uma ameaça não apenas ao El Periódico, é uma ameaça a toda a imprensa nacional”, ressaltou, durante um protesto que reuniu uma dezena de ativistas em frente ao Palácio dos Tribunais, na capital do país.

O El Periódico, que publicava investigações sobre supostos casos de corrupção no governo, expressou que recebeu "um golpe contundente" com a prisão de Zamora em 29 de julho de 2022. O comunicador, de 66 anos, é julgado desde 2 de maio e pode pegar até 20 anos de prisão.

A pressão contra o veículo e o julgamento de Zamora têm o "objetivo de intimidar e assustar toda a imprensa nacional", afirmou o ex-relator da ONU. Segundo o jornal, fundado em 1996, seis jornalistas e dois colunistas são investigados pelo Ministério Público, o que levou alguns a optarem pelo exílio, entre eles sua diretora, Julia Corado.

Zamora acusou de fabricarem o caso contra ele o presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, e a procuradora-geral, Consuelo Porras, sancionada pelos Estados Unidos por corrupção em 2021, versão desmentida pelo governo e pelo Ministério Público.

O julgamento contra Zamora "é uma forma de dizer aos jornalistas: cuidado com o que dizem. Se vocês disserem mais do que gostaríamos, também iremos calá-los", disse à AFP a ex-juíza Yolanda Pérez, que participou do protesto.

A Associação de Jornalistas da Guatemala expressou que o fechamento do jornal “representa um retrocesso para a liberdade de imprensa e, fundamentalmente, para a democracia”.

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