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Crítica A Baleia │ Brendan Fraser impressiona em filme brilhante e angustiante

A Baleia é um filme angustiante da primeira à última cena. Não apenas pela transformação de Brendan Fraser nesse professor que sofre com uma obesidade severa a ponto de ser incapaz de se locomover. Para além disso, o que causa o nó na garganta e torna o novo longa de Darren Aronofsky difícil de digerir são as causas que levam o personagem a esse extremo e tudo o que há à sua volta.

Tanto que a condição física do protagonista não é o cerne da história. Na verdade, o excesso de peso que está literalmente matando Charlie (Fraser) é apenas um sintoma desse mal maior. Tomado pela depressão após uma série de fatos em sua vida, ele é alguém que desistiu de si próprio.

E o que torna A Baleia tão desconfortável é o modo como ele faz esse mergulho nas razões do protagonista. Tanto pela atuação magnífica de Fraser quanto no modo que Aronofsky conta essa história, o longa se afunda no abandono para que, dentro desse mundo escuro e depressivo, a gente entenda como também é possível ter esperança — mesmo que bastante amarga.

Digna de Oscar

Charlie é um personagem incrível. Ainda que a gente só o veja preso dentro desse apartamento escuro e imundo, ele é de uma complexidade impressionante e contraditório como somente uma pessoa de verdade poderia ser. Por isso mesmo a atuação de Brendan Fraser chama tanto a atenção.

Afinal, apenas um trabalho magistral seria capaz de dar vida a tantas camadas assim. O ator se destaca logo de início, quando conhecemos Charlie pela primeira vez e nos impressionamos pelo seu tamanho e pelo modo como Fraser consegue retratar cada uma das dificuldades desse personagem, da locomoção à dificuldade de falar e respirar.

Da proporção da tela à aparência do personagem, tudo é angustiante em A Baleia (Imagem: Divulgação/A24)
Da proporção da tela à aparência do personagem, tudo é angustiante em A Baleia (Imagem: Divulgação/A24)

Só que não demora para que a gente perceba que há muito mais ali. Mesmo trancado o tempo todo em seu apartamento, é fácil notar cada nuance da personalidade desse professor: a vergonha com sua aparência, a culpa que ele carrega e a tentativa constante de se esconder do passado.

É tanta coisa para lidar que é fácil entender por que ele acabou se refugiando na comida até chegar nesse estado crítico no qual se encontra. Porém, Fraser transparece cada uma dessas razões ao ponto de a obesidade e a compulsão alimentar serem apenas o ponto final dessa cadeia. A partir de sua entrega ao papel, você se sente atraído mais e mais a entender como as coisas chegaram ali.

Por isso mesmo, é totalmente compreensível o destaque que o ator vem recebendo ao longo de todo o último ano por seu trabalho em A Baleia. É ele quem sustenta o filme inteiro nas costas a partir de uma atuação sensível e repleta de significado até mesmo em pequenos detalhes. É angustiante, magnético e apaixonante.

Um brilho em meio à escuridão

Toda essa força de interpretação é necessária para que um personagem como Charlie funcione. Isso porque ele não é apenas alguém que guarda um passado sofrido que vai sendo revelado pouco a pouco. Embora também seja isso, o que torna esse protagonista tão interessante é sua própria contradição. Ao mesmo tempo em que ele desistiu de si, é capaz de enxergar o que há de melhor em alguém que o mundo inteiro vê como desprezível.

Apesar de ser alguém que desistiu de si próprio, Charlie tem um otimismo irreparável com os outros (Imagem: Divulgação/A24)
Apesar de ser alguém que desistiu de si próprio, Charlie tem um otimismo irreparável com os outros (Imagem: Divulgação/A24)

Tudo isso acontece porque, sabendo que tem poucos dias de vida, o professor decide tentar reatar laços com sua filha adolescente com quem ele não fala há anos desde que abandonou a família para viver um romance com outro homem. E a garota é detestável.

É a partir dessa tentativa de reaproximação que toda a tensão do filme se desenrola. Mais do que ser a jovem rebelde, Ellie (Sadie Sink) é genuinamente má e não poupa palavras duras para seu pai, deixando claro o nojo e o desprezo que sente por ele, seja pela sua condição física, pelo abandono ou pelo fato de ele ser homossexual. E, mesmo ela sendo essa pessoa terrível, Charlie se dedica mais e mais para salvá-la.

Esse otimismo vindo de alguém que claramente abriu mão do próprio bem-estar — a ponto de não querer ir para um hospital mesmo estando com pressão de 23/13 — é o que dá força tanto à atuação de Fraser quanto a dos demais atores e à angústia que permeia todo esse roteiro. É impossível ficar indiferente aos xingamentos da garota ao pai e mais impressionante ver uma reação bondosa vindo na sequência.

Sadie Skin está incrível como essa filha detestável (Imagem: Divulgação/A24)
Sadie Skin está incrível como essa filha detestável (Imagem: Divulgação/A24)

E a grande sacada de A Baleia é como ele costura todos esses nuances a partir de um texto que acompanha Charlie ao longo de todo o filme — uma resenha de Moby Dick. É esse texto simples e curto que ele lê em diversos momentos da trama que dá significado para sua própria penitência, que justifica seu otimismo e dá peso à sua culpa. É de uma simplicidade arrasadora e que devasta a audiência.

Simples e claustrofóbico

Embora a gente fale muito de como Brendan Fraser é a alma desse filme — e com razão —, há alguns detalhes na direção que ajudam o ator a fazer com que esse trabalho seja realmente o filme de sua vida. E tudo porque Aronofsky sabe criar o desconforto que essa história exige.

Mais do que limitar toda a ação à claustrofobia desse apartamento escuro e sujo — evidenciando o desleixo de Charlie com tudo relacionado a si —, o diretor faz questão de fazer com que todo o mundo à volta do personagem seja sombrio. Não por acaso, chove o tempo todo e as luzes parecem ser incapazes de iluminar aquele ambiente. A casa representa o próprio professor, com direito até mesmo a esse quarto fechado em que estão enterradas suas melhores lembranças.

Filme consegue fazer com que o público se sinta tão preso quanto o próprio Charlie (Imagem: Divukgação/A24)
Filme consegue fazer com que o público se sinta tão preso quanto o próprio Charlie (Imagem: Divukgação/A24)

Além disso, Aronofsky coloca A Baleia inteira dentro de uma proporção 4:3 ao invés dos tradicionais 16:9. Essa é uma escolha curiosa, mas que faz todo o sentido quando você percebe o quão claustrofóbica todas as cenas se tornam. Da mesma forma que Fraser preenche todo o espaço da tela, o mundo parece pequeno e apertado o tempo todo — angustiantes como o modo como Charlie vê o mundo.

Desolador

A Baleia é um filme feito para quebrar qualquer um. Sem precisar se apoiar em nada além do talento de seu protagonista e em um roteiro que carrega toda a força e a dor necessária para contar uma boa história. É uma trama que, apesar de trazer um brilho em sua mensagem a partir do otimismo de Charlie, tudo à sua volta é feito para deixá-lo desconfortável.

É claro que vai ter gente capaz de tirar uma bela mensagem dessa característica do protagonista, mas é impossível ficar indiferente ao abismo no qual ele se encontra. Ainda que seja lindo entender suas motivações para acreditar que pode salvar alguém tão terrível quanto a própria filha, a dor e a culpa desse personagem é tão palpável que qualquer boa emoção que a história apresente vem carregada de um gosto acre que perdura para além do filme.

No fim, A Baleia é uma daquelas experiências que não são feitas para agradar todo mundo, mas que certamente impacta a todos. É um filme que mostra por que Darren Aronofsky é um diretor diferenciado e, acima de tudo, por que Brendan Fraser merece ter um retorno tão glorioso quanto este.

A Baleia está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. Você pode comprar seu ingresso pelo Ingresso.com

Fonte: Canaltech

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