Com alta da Selic, renda fixa volta a ser um bom investimento, dizem analistas
Na reuniĂŁo do ComitĂȘ de PolĂtica MonetĂĄria (Copom) de quarta-feira, a Ășltima do ano, o Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa bĂĄsica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, passando de 7,75% para 9,25% ao ano. Esse Ă© o maior ciclo de alta desde 2002 e, como consequĂȘncia, tem impacto no retorno dos investimentos â muda a regra da poupança e gera maior rentabilidade na renda fixa.
Com a Selic a 7,75%, o dinheiro da caderneta rendia 70% da taxa bĂĄsica mais a Taxa Referencial (TR), atualmente zerada, ou seja, o equivalente a 5,53% ao ano. Agora, ela passa a render 0,5% ao mĂȘs mais a TR.
Em 12 meses, seriam 6,17%. Apesar disso, o head de alocação da XP, Rodrigo Sagvioli, diz que essa não é uma boa opção quando comparada a outros ativos também seguros, como Tesouro Direto e CDBs com liquidez diåria.
â A renda fixa pĂłs-fixada Ă© a que vai oferecer maior atratividade nos prĂłximos meses. Vale a pena aumentar exposição, principalmente para quem tem perfil mais conservador. A renda fixa atrelada Ă inflação tambĂ©m segue interessante, o retrovisor estĂĄ bonito. Mas Ă© preciso olhar como ficarĂĄ o cenĂĄrio daqui em diante â avalia Sagvioli.
Para ele, hĂĄ a tendĂȘncia de achar que o aumento de juros diminui a atratividade da renda variĂĄvel, o que nĂŁo Ă© verdade. O prĂȘmio de risco estĂĄ muito mais ligado aos juros mais longos.
â Fundos multimercados, por exemplo, sĂŁo uma classe atemporal, continuam interessantes â diz.
O especialista de alocação da Ăvel Investimentos, Gustavo Maders, concorda. Ele diz que a postura defensiva Ă© alocar dinheiro em ativos de renda fixa pĂłs-fixados ou investir em tĂtulos indexados Ă inflação para prazos mais longos. Recomenda tĂtulos prĂ©-fixados apenas para perĂodos curtos de atĂ©, no mĂĄximo, dois anos.
Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, afirma que o Tesouro Selic e os fundos DI estão remunerando melhor que antes, porém alerta que é necessårio fazer o cålculo da rentabilidade real.
â O investidor precisa buscar uma rentabilidade acima da inflação. Como a Selic estĂĄ alta justamente porque a inflação estĂĄ alta, Ă© sempre importante diversificar em investimentos que paguem IPCA mais uma taxa, alĂ©m de ter parte da carteira em ativos dolarizados, se tiver perfil para isso. Podem ser empresas exportadoras, fundos internacionais e BDRs â aconselha Paula.
E acrescenta:
â Nunca tenha todos os ovos numa mesma cesta. NĂŁo mude todos os investimentos para renda fixa porque pode acabar perdendo boas oportunidades.
O coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, Ricardo Teixeira, opina que, como a diferença é pequena entre a inflação e a taxa Selic, quem busca alta rentabilidade deve continuar correndo riscos:
â A renda fixa sĂł volta a ser atrativa como jĂĄ foi um dia quando a Selic estiver bem maior que a inflação. Hoje, nessa aplicação segura, vocĂȘ pode empatar com a inflação ou perder. Ă claro que Ă© necessĂĄrio ter uma aplicação conservadora para a reserva de emergĂȘncia, mas quem quer multiplicar o dinheiro tem que ir tambĂ©m para o mercado onde possa ganhar mais.
Sandra Blanco, estrategista chefe da Ărama, porĂ©m, aposta que a renda fixa ficarĂĄ ainda mais atraente em 2022. Ela acredita que o ciclo de altas na Selic ainda nĂŁo acabou e sugere que a taxa possa chegar a 11% no prĂłximo ano.
Em contrapartida, enxerga a inflação mais controlada, com parte significativa dos choques de preços dos combustĂveis e da energia se dissipando.
â Vamos ter alta volatilidade em 2022, com eleiçÔes polarizadas, a questĂŁo fiscal complicada. Ă o ano para a renda fixa. Mas tambĂ©m hĂĄ outras oportunidades. Vemos melhores perspectivas para multimercados; investimentos no exterior podem proporcionar bons ganhos; e alocar atĂ© 2% da carteira em criptomoedas pode ser interessante â finaliza.