Chile deve iniciar ciclo de corte de juros na frente do Brasil
(Bloomberg) -- O mercado de swaps mostra que o Chile estĂĄ a caminho de sair na frente do Brasil e se tornar o primeiro paĂs das AmĂ©ricas a começar a cortar juros no ciclo atual, apĂłs o crescimento econĂŽmico recorde da nação andina no ano passado sofrer uma parada brusca.
Os swaps chilenos precificam um corte de juros em dezembro, e a pesquisa mais recente do banco central junto a operadores do mercado confirma essa expectativa. O custo do dinheiro no paĂs deve atingir um pico entre 9,25% e 9,5% nos prĂłximos trĂȘs meses e depois cair 0,25 ponto percentual em seis meses. No Brasil, os DIs apontam para o inĂcio de um ciclo de flexibilização no primeiro trimestre do prĂłximo ano.
Os bancos centrais sul-americanos foram alguns dos primeiros do mundo a apertar a polĂtica monetĂĄria no ano passado e provavelmente serĂŁo os primeiros a cortar juros. As autoridades monetĂĄrias no Chile e no Brasil jĂĄ se tornaram cautelosamente mais dovish, mesmo com a inflação atingindo novas mĂĄximas. Agora os investidores antecipam o fim dos aumentos, e as curvas de juros invertidas em ambos os paĂses sinalizam reversĂ”es de polĂtica.
âO Chile provavelmente serĂĄ o primeiro paĂs da regiĂŁo a cortar juros, pois a curva de swaps antecipa o inĂcio de ajustes para baixo no quarto trimestreâ, disse Sebastian Ide, chefe da mesa de operaçÔes do Banco de Chile. AlĂ©m disso, âsĂŁo provĂĄveis ââcortes mais rĂĄpidos e agressivos do que os esperados pelo mercado, entre 75-100 pontos-base ou atĂ© maisâ.
Embora o Chile sĂł tenha começado a aumentar juros em julho, quatro meses depois do Brasil, pode estar apto a reverter a polĂtica monetĂĄria mais cedo devido ao risco-paĂs significativamente menor. O paĂs andino tem classificação de risco soberano A nas trĂȘs principais agĂȘncias de classificação, o que significa que Ă© capaz de atrair investidores que pagam juros significativamente menores do que o Brasil, que estĂĄ abaixo do grau de investimento. As taxas bĂĄsicas de juros estĂŁo em 8,25% no Chile e 12,75% no Brasil.
O crescimento tambĂ©m estĂĄ desacelerando acentuadamente no Chile. ApĂłs crescer 4,3% e 1,7% no terceiro e quarto trimestres, respectivamente, em relação aos trĂȘs meses anteriores, a economia teve contração de 0,8% no primeiro trimestre. O Brasil divulgarĂĄ o PIB dos trĂȘs primeiros meses do ano na prĂłxima semana.
âVemos uma probabilidade crescente de que a economia entre em recessĂŁo em 2023â, disse Samuel Carrasco, economista sĂȘnior da Credicorp Capital em Santiago. Isso aumenta a possibilidade de um corte de juros no quarto trimestre, embora o cenĂĄrio base continue sendo o primeiro trimestre de 2023, disse, acrescentando que os cortes serĂŁo âagressivosâ, com uma redução de 1,5 a 2 pontos percentuais nos trĂȘs primeiros meses de 2023.
O Brasil pode achar mais difĂcil esfriar a inflação do que o Chile, jĂĄ que a histĂłria mostra que os preços subiram a um ritmo mĂ©dio de 6,7% ao ano na maior economia da AmĂ©rica Latina desde 2002, contra 3,4% no Chile.
âEsperamos que o banco central inicie o ciclo de flexibilização em maio de 2023â, disseram analistas do Credit Suisse, incluindo a economista-chefe Solange Srour, em relatĂłrio sobre o Brasil. âNo entanto, os riscos sĂŁo de um inĂcio tardio do ciclo de flexibilização, pois o processo de desinflação pode demorar mais do que nossas expectativas atuais.â
De fato, as leituras recentes de inflação mostraram que os investidores em ambos os paĂses podem estar excessivamente otimistas. A inflação chilena acelerou para 10,5% em abril, mais que o triplo da meta de 3% e acima de estimativas de 10,1%. No Brasil, o IPCA-15 subiu mais do que o esperado para 12,2% ano a ano em meados de maio, contra a meta de 3,5% do Banco Central para este ano. A incerteza com o crescimento global, commodities volĂĄteis e a situação geopolĂtica na Europa tambĂ©m podem forçar operadores a rever suas apostas.
âDadas as pressĂ”es de preços de curto prazo e o consumo mais forte do que o esperadoâ, os analistas do Standard Chartered Dan Pan e Erwin He disseram que aumentaram sua previsĂŁo para a taxa bĂĄsica chilena no final do ano de 8,5% para 9,5%, em 26 de maio. Isso levaria os cortes para 2023.
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