Cesta básica: paranaense precisou trabalhar 116 horas para comprar comida
Cesta básica familiar, em Toledo (PR), ultrapassa o valor da remuneração em 63,06%, custando R$1.828,11;
Pesquisa da Unioeste revelou que foi preciso trabalhar 116h e 40 min para pagar uma cesta básica;
Os produtos que apresentaram maior aumento de preços foram: a batata, o tomate, o café e a banana.
No município de Toledo, oeste do Paraná, um trabalhador que ganha um salário mínimo precisou se ocupar durante 116 horas e 40 minutos para conseguir pagar uma cesta básica individual em maio de 2022. Ou seja, foi preciso trabalhar mais da metade do mês para garantir o básico.
O direito fundamental à alimentação adequada está inacessível ao trabalhador, nos últimos meses, e a variação dos preços de bens da cesta básica e o poder de compra familiar e individual tem retirado o alimento do prato do brasileiro. A cesta básica familiar (considerando uma família média de 4 pessoas), por exemplo, ultrapassa o valor da remuneração em 63,06%, custando R$1.828,11 mensais.
A pesquisa é divulgada mensalmente pelo Núcleo de Desenvolvimento Regional composto pelos cursos de Ciências Econômicas e da pós-graduação de Desenvolvimento Regional do Agronegócio e de Economia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus Toledo.
Os indicadores observados pela pesquisa da Cesta Básica de Alimentos no município mostraram que houve um aumento expressivo de 8,27% nos meses de fevereiro e abril; após dois períodos de altas significativas entre abril e maio ocorreu uma queda no custo da cesta básica.
“Eu compro poucas coisas no mercado, porque o meu marido ganha marmita do trabalho, então cozinho apenas nos finais de semana. Mas, sei que o negócio tá caro, a minha filha tem que comprar tudo e eu vejo o sufoco que ela passa, não é fácil, comprar carne é uma vez por mês e olhe lá” desabafou Eva Moreira, dona de casa, em entrevista na feira do bairro na cidade.
Segundo analisado, os produtos que apresentaram maior aumento de preços nos últimos 12 meses foram: a batata, que acumulou aumento de 224,54%; o tomate, com 98,99% de aumento; o café, que aumentou 97,38% e; a banana, com incremento de 41,60%.
No frio de 13º graus e atendendo à todos com simpatia, o produtor rural Sérgio Vogel, possui duas barracas em uma das feiras da cidade, ele conta que precisou aumentar o preço das “cucas”, um tipo de pão caseiro vendido por comerciantes locais: “Há três ou quatro anos atrás, nós pagávamos R$38,00 no fardo de farinha. Hoje estamos pagando R$ 80,00. Com essa situação, precisei aumentar o preço das “cucas” e fiquei uma semana sem vender”, disse.
Dos 13 itens da cesta básica apresentados, 7 apresentaram aumento e 6 apresentaram redução no último período. Os produtos que apresentaram aumento no preço médio no período analisado foram: a margarina (4,55%); o óleo de soja (4,28%); o leite (1,68%); a farinha de trigo (0,80%); o pão francês (0,72%); o açúcar (0,54%); e a carne (0,22%). Por sua vez, os produtos que apresentaram redução no preço médio no período foram: o tomate (-30%); o feijão preto (-11,13%); a banana, (-5,65%); a batata (-1,12%); o café (-0,91%); e o arroz parboilizado (-0,60%).
A pesquisa mostra que para comprar a cesta básica e pagar as despesas domiciliares mensais com habitação, vestuário, transporte, entre outros, o salário mínimo precisaria ser R$5.119,33 correspondendo 4,65 vezes o piso nacional vigente de R$1.212,00.
Com isso, o custo da cesta básica individual de Toledo foi comparada pelos pesquisadores com outros municípios: Cascavel, Pato Branco, Francisco Beltrão, Dois Vizinhos e a capital Curitiba. Além das duas capitais vizinhas: Florianópolis e Porto Alegre e das capitais selecionadas de cada mesorregião brasileira: São Paulo, Recife, Campo Grande e Belém.
No mês de maio, o custo da cesta básica de Toledo foi maior que o de Recife, Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, sendo, portanto, mais barata que as demais cidades listadas. Observou-se que o custo da cesta básica de Cascavel (R$628,87) foi 3,20% maior que o custo da cesta de Toledo (R$609,37).
Há 17 anos a Rafaela Montanari vende tapioca na feira e falou sobre a variação de preço que o produto sofreu nos últimos anos, ela também precisou subir o valor da mercadoria para não levar prejuízo: “Do ano passado até agora aumentamos R$5,00, vendíamos a tapioca por R$10,00 e precisamos subir para R$15,00. Perdemos um pouco da clientela. O queijo, que é a base de 90% do nosso cardápio, custava R$15,00 o quilo e agora pagamos R$45,00” contou.
Ela lembra que quando começou a trabalhar na feira vendia as tapiocas por R$2,75, e que ao longo dos anos precisou acompanhar a inflação para se manter no mercado: “não estava dando para pagar o funcionário, os produtos e sobrar um lucro considerável”, afirmou.
Ainda de acordo com a pesquisa da Unioeste, o cálculo da inflação no Brasil é feito a partir da variação dos preços que fazem parte de nove grupos: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação. É por meio deste cálculo que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulga o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O IBGE divulgou que no mês de abril de 2022 os produtos que sofreram mais variação de preços foram os alimentos e bebidas (2,06%) .
O pedreiro Sandro de Souza, de 28 anos contou que comprar na feira local compensa mais que o supermercado. “Um pé de alface está R$ 4,00. Compensa muito mais vir na feira, é sempre importante pesquisar os preços dos produtos, pois dá uma diferença no nosso orçamento", falou.