Autoridades eleitorais turcas confirmam segunda volta a 28 de maio

A Turquia vai ter um tira-teimas entre Recep Tayyip Erdoğan e Kemal Kılıçdaroğlu, após um tenso escrutínio este domingo. Após a contagem final, com os resultados definitivos anunciados só na tarde desta segunda-feira, nenhum dos candidatos chegou à barreira dos 50%. A segunda volta está marcada para o dia 28 de maio.

Antes da segunda volta ser oficialmente anunciada, a oposição acusou o poder de atrasar expressamente a publicação dos resultados.

Em jeito de resposta, o presidente Erdogan deixava na madrugada eleitoral esta mensagm no Twitter:

"O facto de as eleições de 14 de maio terem ocorrido sob a forma de uma grande festa da democracia com paz e tranquilidade é uma expressão da maturidade democrática da nossa Turquia.

Enquanto a eleição decorreu em um ambiente tão positivo e democrático e a contagem dos votos ainda está em andamento, tentar anunciar os resultados às pressas significa uma usurpação da vontade nacional. (...) Peço a todos os meus amigos e colegas que permaneçam nas urnas, aconteça o que acontecer, até que os resultados sejam oficialmente finalizados.

Parabenizo todos os meus cidadãos que votaram em nome da democracia e participaram dos trabalhos eleitorais e expresso minha gratidão a cada um deles".

Num clima de forte tensão, o seu opositor pedia também aos observadores e funcionários eleitorais que não arredassem pé das urnas de voto.

"A ficção, que começou com 60 por cento, agora caiu para menos de 50. Os observadores eleitorais e os funcionários do conselho eleitoral nunca devem deixar seus lugares. Não vamos dormir esta noite, meu povo. Eu aviso o YSK (Conselho Superior Eleitoral), que tem de fornecer entrada de dados nas províncias".
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Cofiguração provável do novo parlamento

Ao mesmo tempo da eleição presidencial, os eleitores turcos escolheram um novo parlamento. Os lugares são atribuídos por estrita proporcionalidade a qualquer partido ou aliança que ultrapasse os 7% do voto popular.

O parlamento passou para segundo plano nos últimos anos, mas poderá voltar a ser importante se Kılıçdaroğlu ganhar a presidência e cumprir a promessa de restringir os poderes presidenciais.

Segundo a agência estatal turca Anadolu, o partido de Erdogan, AKP, terá alcançado até agora 266 lugares no parlamento; o MHP, 50; os Verdes 44; o CHP, Partido Republicano de centro esquerda, de Kiliçdaroglu, 169 e outras formações políticas, 9.

Toda a Turquia e muitas capitais do mundo anseiam por conhecer o resultado oficiais destas eleições e perceber se haverá segunda volta da eleição presidencial a 28 de maio.

Na noite eleitoral ambos os candidatos se mostraram confiantes numa vitória na segunda volta. Erdogan, que teve um desempenho melhor do que as sondagens pré-eleitorais previam, mostrou confiança e espírito combativo perante os seus eleitores: "Acreditamos firmemente que continuaremos a servir a nossa nação nos próximos 5 anos."

Inspirado pela possibilidade de uma segunda volta, o principal opositor do presidente, Kemal Kılıçdaroğlu, está convencido: "Se a nossa nação disser segunda volta, aceitamos de bom grado. Vamos ganhar estas eleições na segunda volta", disse, acrescentando: "Esta vontade de mudança na sociedade é superior a 50 por cento".

Quem são os dois cadidatos

Recep Tayyip Erdoğan lidera a política turca há mais de duas décadas. Foi primeiro-ministro de 2003 a 2014 e, desde então, é presidente. Durante a sua presidência fez com que o papel do presidente tornasse o mais importante cargo do Estado. O seu partido Justiça e Desenvolvimento (AK) é populista e conservador e tem afastado a nação turca do passado secularista, em direção ao islamismo.

Kemal Kılıçdaroğlu, um funcionário público reformado de 74 anos, é o principal líder da oposição turca há mais de uma década, tendo conduzido o seu Partido Republicano do Povo (CHP), de centro esquerda, a importantes vitórias numa série de municípios de grandes cidades, incluindo Istambul, Ancara e Esmirna. Nesta batalha pela presidência lidera uma coligação de seis partidos da oposição.

Os desafios do vencedor

Estas eleições têm como pano de fundo uma grave crise económica e o rescaldo dos terramotos devastadores em fevereiro passado, na sequência dos quais o governo foi fortemente criticado pela sua resposta.

A eleição decide não só a liderança interna da Turquia e o futuro de 85 milhões de turcos, mas o rumo da nação, membro da NATO, na cena internacional.

A contagem dos votos é seguida atentamente pelos governos de todo o mundo. A derrota de Erdogan será um revés para Vladimir Putin, que perde um aliado de peso, mas um alívio para Washington e vários países do Médio Oriente, com relações difíceis com a Turquia.

Erdogan deu ao país uma dimensão incontornável na cena internacional e modernizou a Turquia com novas infraestruturas como pontes, hospitais e aeroportos e uma indústria militar procurada pelas forças armadas de muitos países, mas a política económica não acompanhou a dinâmica e o país vive numa espiral de crise, agravada pelas consequências dos terramotos devastadores.

Kemal Kılıçdaroğlu é para milhões de turcos o rosto da mudança e a esperança num futuro melhor. O candidato de uma coligação de seis partidos da oposição prometeu dar um novo rumo à Turquia, com o "regresso da democracia" e novas políticas económicas que capacitem as instituições que foram perdendo autonomia sob o controlo rígido do aparelho de estado de Erdogan.