Brasília em Off: O gesto esperado de Campos Neto
(Bloomberg) -- A artilharia pesada de ministros e do PT contra o Banco Central dificilmente fará com que a autoridade monetária baixe os juros já na próxima reunião do Copom, apostam integrantes do governo. O que se especula entre os técnicos é qual será o tom adotado no comunicado da decisão da autoridade monetária.
Há quem acredite que o BC fará o gesto pedido pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, reconhecendo mais enfaticamente os esforços para o equilíbrio das contas públicas com medidas como a reoneração dos combustíveis.
Mas também há quem diga que, para tentar manter sua credibilidade e evitar passar uma imagem de interferência política, o BC pode não mudar de tom.
Erro de calibragem
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, tem sido a maior crítica do Banco Central e da condução da política monetária. Hoffmann tem reclamado até mesmo da agenda de Haddad.
A equipe econômica defendia originalmente a volta dos tributos federais nos preços de combustíveis a partir de 1º de março. Com as resistências políticas, o time de Haddad teve que fazer uma reoneração calibrada, com a ajuda da Petrobras e com a cobrança de um imposto de exportação sobre óleo cru por quatro meses.
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Mas até integrantes do governo avaliam que as críticas à área econômica podem estar acima do tom. Hoffmann já afirmou que o BC parece ser “a última trincheira do bolsonarismo no poder” e em entrevista esta semana sugeriu que Campos Neto peça demissão.
Há quem brinque que o erro de calibragem da presidente do PT está no fato de que, como resultado, ela estaria até aumentando a solidariedade a Haddad dentro do governo e no partido, cujas correntes mais à esquerda chamam de “o mais tucano dos petistas”.
Explicando
Ao anunciar as medidas de reoneração de combustível, Haddad também voltou a cobrar do Banco Central a queda dos juros. Segundo integrantes da equipe econômica, o ministro da Fazenda insistiu no tema durante o anúncio como um sinal a Campos Neto, mas também ao próprio PT.
Haddad, Tebet defendem corte de juros após reoneração
O partido tentou derrubar a volta dos impostos alegando que isso iria aumentar a inflação, impedindo que o BC baixe os juros. Foi por isso que o ministro insistiu em dizer que a ata do Copom afirmou que o restabelecimento dos tributos seria uma política desejável para amenizar a pressão sobre a Selic, que está a 13,75%.
Copom
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária, marcada para os dias 21 e 22 de março, pode acabar contando com a participação do atual diretor de Política Monetária, Bruno Serra, cujo mandato se encerrou no dia 28 de fevereiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda está fechando com Haddad um nome para substituir Serra. Além disso, o Congresso ainda está em processo de instalação de comissões e definição de seus presidentes. O novo integrante do BC precisará ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
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