BNDES quer dobrar volume de crédito para R$ 200 bilhões até 2026
(Bloomberg) -- O BNDES planeja emitir títulos isentos de impostos para dobrar suas operações de crédito para cerca de R$ 200 bilhões sem a ajuda do Tesouro, de acordo com o diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos da instituição, Nelson Barbosa.
O ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff e agora integrante do BNDES disse que os títulos serão vinculados a projetos de desenvolvimento em áreas nas quais a instituição quer investir, como transição energética, inovação e infraestrutura. Eles estarão disponíveis para todos os perfis de investidores, inclusive individuais, adoçados pela isenção de imposto de renda.
“Um dos nossos objetivos é recuperar o tamanho histórico do BNDES, o que significa dobrar o tamanho do banco”, disse Barbosa em entrevista de seu escritório em Brasília. “Ao invés do Tesouro tomar emprestado e repassar ao BNDES, o próprio banco vai captar o dinheiro.”
O BNDES historicamente desembolsou cerca de 2% do PIB em empréstimos, ou R$ 200 bilhões, segundo Barbosa. Para recuperar isso, será preciso dobrar o volume das operações de crédito, hoje pouco mais de R$ 100 bilhões, até o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desta vez, porém, o governo quer evitar erros do passado, incluindo grandes injeções de dinheiro público que prejudicaram as contas públicas e a credibilidade fiscal do Brasil. A carteira de empréstimos do BNDES havia se expandido gradualmente com recursos do Tesouro durante os dois primeiros mandatos de Lula, chegando a cerca de R$ 1 trilhão no governo Dilma Rousseff, mais que o volume do Banco Mundial.
Grande parte do financiamento apoiou empresas como a Petrobras e a JBS, que embarcaram em ambiciosas aquisições e expansões globais. Junto com a chamada política dos campeões nacionais, no entanto, surgiram denúncias de que o banco favorecia aliados políticos e entregava generosos bônus anuais a seus funcionários com base no volume de operações de crédito que fechavam, o que gerou investigações de corrupção. Investigações internas realizadas pelo banco não encontraram irregularidades.
Agora, o BNDES vai direcionar seus recursos para algumas atividades econômicas que considera necessárias para gerar crescimento e empregos, e não para empresas específicas. Se os recursos acabarem beneficiando um pequeno número de empresas de um setor específico, isso só acontecerá em decorrência da concentração que já existe, e não por estratégia do banco, disse Barbosa.
“Nosso foco é mais em atividades do que em empresas”, disse ele. “Queremos estimular a inovação, a reindustrialização, a inteligência artificial.”
Americanas
O governo ainda está medindo o impacto da implosão da varejista Americanas no mercado de crédito do país, disse Barbosa. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado, após o anúncio de uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço.
“Por enquanto, é uma crise de liquidez concentrada no varejo que pode ser resolvida pelo Banco Central e pelo próprio sistema bancário”, afirmou.
Ainda assim, o governo detectou uma desaceleração do crédito que pode ser estrutural ou não, disse, acrescentando que o BNDES intervirá se necessário, oferecendo linhas de crédito para micro, pequenas e médias empresas, bem como para quem precisa de capital de giro.
O banco também estuda a possibilidade de cobrar taxas de juros diferenciadas de acordo com o perfil do cliente. Em apenas alguns casos, a taxa seria subsidiada.
“Os subsídios não devem ser demonizados, mas precisamos buscar seu tamanho ideal e usá-los de forma eficaz e transparente”, disse Barbosa, citando setores como inovação, sustentabilidade climática e transição energética como potenciais candidatos. “Se houver subsídio do BNDES, será feito de forma transparente e para alguns setores selecionados.”
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