A tecnologia de reconhecimento facial faz cada vez mais parte do cotidiano das pessoas, mesmo que uma parcela significativa delas nem imagine que tem seus passos rastreados e sua identidade exposta. Sem regulação explícita sobre o tema na maioria dos países, o sistema já integra diversas instituições públicas e privadas, que vão de templos religiosos até aeroportos.
Em manifestação contra a aplicação desta tecnologia, considerada por muitos como invasiva e ainda ineficiente, três ativistas — equipados com as câmeras de seus smartphones acopladas na cabeça e trajes de segurança — registraram os rostos de mais de 13.000 pessoas em Washington, nos Estados Unidos, na última quinta-feira (14).
O grupo de ativistas defende que a vigilância com a tecnologia de reconhecimento facial deve ser proibida ou ao menos regulamentada, com normas claras de uso. Durante o ato transmitido ao vivo, foi utilizado o software Rekognition, da Amazon, disponível comercialmente.
Despertando as pessoas para o debate sobre as questões envolvidas, o objetivo foi digitalizar o rosto de milhares de transeuntes e os cruzar com um banco de dados para rastrear membros do Congresso e da imprensa, além de lobistas da Amazon — grupos considerados de influência e que, ao terem sua privacidade questionada, poderiam agir de maneira mais ativa na questão

A ação faz parte de protesto organizado pelo grupo de direitos digitais Fight for the Future, fundado em 2011, com a missão de garantir que a web preserve sua liberdade de expressão e criatividade em seu núcleo.
Entenda a manifestação
“Isso [a questão da vigilância] deveria ser ilegal”, defende Evan Greer, vice-diretor do Fight for the Future, em um comunicado à imprensa, “mas até o Congresso tomar medidas para proibir a vigilância do reconhecimento facial, é estupidamente fácil para que qualquer pessoa — seja um agente do governo, uma corporação ou apenas um perseguidor assustador — realize monitoramento biométrico e viole direitos básicos em grande escala.”
Com o ato, os ativistas do Fight for the Future digitalizaram exatamente 13.740 rostos. Entre eles, 25 foram identificados como lobistas, sete jornalistas e um deputado, o democrata Mark DeSaulnier, da Califórnia. Mas o sistema não funcionou com a eficácia e precisão esperada, apresentando falhas. Inclusive, foi identificado entre a multidão o cantor de rock americano Roy Orbison, falecido em 1988.
Amazon's facial recognition software also thought that it had found 7 journalists and 25 lobbyists who we had in our database.
— Fight for the Future (@fightfortheftr) 14 de novembro de 2019
But it was wrong.
It also thought it found Roy Orbison, who has been deceased since 1988. (RIP) pic.twitter.com/aSV84ZJnWt
Agora, os manifestantes lançaram uma ferramenta online, que pode ser acessada em ScanCongress.com, que permite os usuários, que estavam em Washington no dia, fazer upload de suas fotos e verificar se os rostos já foram digitalizados.
Todos os dados biométricos coletados serão destruídos em duas semanas. Segundo Greer, a ação era apenas um alerta para a população de que "alguém poderia usar a mesma tecnologia para causar danos inimagináveis."
A regulamentação no mundo
A questão sobre a regulamentação do reconhecimento facial tem alcançado legisladores locais, estaduais e federais. Inclusive algumas cidades americanas já proibiram a tecnologia controversa, como San Francisco, Oakland e Berkeley, todas na Califórnia, e Somerville, em Massachusetts. Na esfera federal, a discussão também está chegando ao Congresso, com grupos pró-tecnologia como a Amazon.
O Brasil ainda não possui uma regulamentação específica sobre o tema, no entanto, em levantamento feito pelo Instituto de pesquisas Igarapé, foram identificados que dois projetos de lei tramitam no Congresso Nacional e 21 em assembleias legislativas sobre o uso de reconhecimento facial. Dos projetos, oito deles correm no Rio de Janeiro e dois em São Paulo.
Fonte: Canaltech

Trending no Canaltech:
- Privatização dos Correios: entenda o que vai acontecer com sua encomenda
- E se pudéssemos entrar em um buraco negro? O que encontraríamos no caminho?
- A PARTIR DE R$ 55 | Smartwatches e smartbands Xiaomi em oferta no Brasil
- Diretor de produtos da Uber deixa o cargo e explica seus motivos
- Veja como uma galáxia "nasce" neste vídeo de simulação