Astrocientistas debatem desafios da carreira em encontro virtual
Como os buracos negros evoluem e influenciam o ambiente ao seu redor? O que apontam as pesquisas sobre a misteriosa energia escura? O que a energia nuclear tem a ver com estrelas de nĂȘutrons e ondas gravitacionais?


Estas perguntas fazem parte de linhas de pesquisas de cientistas brasileiras ligadas Ă s astrociĂȘncias e que se reĂșnem, virtualmente, a partir desta terça-feira (7) atĂ© a prĂłxima sexta-feira (10) para troca de informaçÔes, saberes e vivĂȘncias.
Esta edição do evento As Astrocientistas â 2Âș Encontro Brasileiros de Meninas e Mulheres da AstrofĂsica, Cosmologia e Gravitação â conta com pesquisadoras que estĂŁo no Brasil e em paĂses como Estados Unidos, França, Reino Unido, MĂ©xico e Alemanha.
Ă o caso de uma das organizadoras do evento, a astrĂŽnoma Catarina Aydar, que participa da Alemanha, onde Ă© aluna de doutorado no Instituto Max Plank para FĂsica Extraterrestre.
Ela explica que a ideia de criar um espaço virtual, em 2021, que agregasse pesquisadoras brasileiras no cenårio nacional e internacional veio de uma demanda presente de se conectarem, trocarem informaçÔes e impressÔes sobre carreira e trabalho. Além disso, Aydar destaca a importùncia de abrir portas para geraçÔes futuras em um ambiente majoritariamente ocupado por homens.
âA maioria das organizadoras, quando surgiu a ideia, estava fora do Brasil e sentia falta deste vĂnculo com a comunidade de mulheres brasileiras na ciĂȘncia. EntĂŁo, foi uma vontade de expandir isso, para que inclusive mulheres que talvez viessem de formaçÔes em que tivesse uma maioria sufocante de homens pudessem encontrar esses outros pares de mulheres que sĂŁo ao mesmo tempo inspiração e parceriaââ, diz.
Em relação Ă edição passada, em que o evento focou principalmente nas questĂ”es das descobertas e desafios cientĂficos com o protagonismo feminino, Aydar diz que este ano o foco estĂĄ ampliado para debates sobre comunicação, divulgação cientĂfica e nas formas eficazes de fazer com que o conhecimento cientĂfico chegue atĂ© a população brasileira. Ela destaca ainda que, embora os debates sobre equidade nas carreiras ligadas Ă s astrociĂȘncias sejam uma bandeira, o encontro Ă© aberto para todos os interessados.
ââA gente acredita que Ă© muito importante ter ambos os gĂȘneros e as outras as pessoas que se identificam com outros gĂȘneros alĂ©m deste binarismo, participando nesta luta por mais diversidade, inclusĂŁo, e por uma academia que seja menos tĂłxica e acolha as mulheres para que nĂŁo se sintam excluĂdas e oprimidas enquanto exercem a profissĂŁo."

Astrocientistas discutem desafios da carreira e da divulgação cientĂfica - Divulgação/As Astrocientistas
Entre os 26 palestrantes desta semana estão a astrÎnoma Thaisa Storchi Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que abordarå os recentes resultados de observaçÔes de buracos negros, incluindo os achados do supertelescópio espacial James Webb; a cientista brasileira Marcelle Soares-Santos, da Universidade de Michigan (EUA), que falarå sobre sua pesquisa envolvendo a energia escura, considerada uma hipótese para explicar a expansão acelerada do universo.
No Ășltimo dia do encontro (10), haverĂĄ palestra-chave com Jocelyn Bell-Burnell, da Universidade de Dundee e Universidade de Oxford â Reino Unido, autora da descoberta dos pulsares (estrelas de nĂȘutrons com alto campo magnĂ©tico, com rotação e emissĂŁo de radiação em jatos), que terĂĄ transmissĂŁo ao vivo pelo YouTube.
ââJocelyn Bell-Burnell tem uma histĂłria realmente fascinante porque, apĂłs duvidarem da qualidade do trabalho dela, foi o orientador dela que levou o prĂȘmio Nobel pela descoberta. Ela vai contar essa histĂłria da descoberta e como ser mulher afetou a carreira delaâ, destaca Catarina Aydar.
Ăs vĂ©speras do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na CiĂȘncia, celebrado em 11 de fevereiro, Aydar destaca que, para alĂ©m da representatividade e de nĂșmeros, Ă© preciso que as mulheres tenham estrutura para se manter na academia diante de questĂ”es como maternidade, assĂ©dio moral e sexual.
âQueremos trazer luz para estas questĂ”es, para que haja polĂticas pĂșblicas e apoio institucional Ă s mulheres. A questĂŁo da equidade para ocupar os espaços e carreiras cientĂficas serĂĄ tratada e espero que a gente saia mais inspirada e motivada e tambĂ©m mais direcionada com essa troca para possibilitar o avanço das mulheres cada vez mais se sentindo melhor em ocupar os espaços que sempre deveriam ter pertencido a nĂłsââ, reforça Aydar.
E a cobertura em astronomia feita pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Ă© um dos destaques da 2Âș Encontro Brasileiro de Meninas e Mulheres da AstrofĂsica, Cosmologia e Gravitação.
A jornalista da TV Brasil Adrielen Alves participarĂĄ nesta terça-feira da Mesa Redonda â Divulgação CientĂfica e Atuação Feminina e na prĂłxima sexta-feira falarĂĄ sobre a sĂ©rie especial produzida para a AgĂȘncia Brasil e a RadioagĂȘncia Nacional Mulheres que Amam as Estrelas.
A sĂ©rie de reportagem especial retrata os desafios e conquistas de mulheres, que ao longo dos sĂ©culos, se dispĂ”em a estudar os astros. Ă um recorte da trilha de cientistas que fizeram seus nomes, com sacrifĂcio e mĂ©rito, e de mulheres brasileiras que sĂŁo inspiradas a levar a ciĂȘncia que estuda os astros ao pĂșblico geral. Cada matĂ©ria remonta aos feitos de uma cientista que marcou a histĂłria da astrociĂȘncia e de uma cientista da atualidade com atuação no Brasil.
Confira aqui a programação.
*Matéria alterada às 15h40 para correção no quinto parågrafo. O ano correto é 2021, em vez de 2022.