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App sem dancinha desponta enquanto Instagram tenta ser TikTok

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma rede social para compartilhar fotos no momento da captura e ver o que amigos prĂłximos estĂŁo fazendo. Sem vĂ­deo, mĂșsica ou vendas. Esse era o Instagram no inĂ­cio da dĂ©cada passada, quando foi lançado, mas poderia ser a descrição do seu recĂ©m-criado concorrente, o BeReal.

Desde o dia 14 de julho a rede social estĂĄ pelo menos em segundo lugar entre os aplicativos mais bem avaliados da App Store nos Estados Unidos, segundo monitoramento da empresa Sensor Tower. No Brasil, buscas pelo app no Google explodiram na Ășltima semana de abril e se mantiveram altas desde entĂŁo.

Mais de 1 milhão de pessoas baixaram o app na PlayStore, uma ferramenta de nicho se comparada ao WhatsApp, por exemplo, que acumula 5 bilhÔes de downloads. Mas o recente interesse coincide com uma onda de reclamaçÔes contra o Instagram, que estå em mais de 1 bilhão de celulares.

O advogado Fabio Barros, 30, é um dos que fazem coro às críticas. "O Instagram parece empenhado em piorar ainda mais a qualidade de vida virtual de todo mundo", afirma, referindo-se ao que considera uma poluição visual da plataforma. "A gente jå estå bombardeado de informaçÔes por todos os lados. Não ajuda quando tentam aumentar isso."

No BeReal, onde estĂĄ hĂĄ uma semana, Barros encontrou a simplicidade que existia no inĂ­cio do Instagram.

Ali ele sĂł pode postar uma vez por dia, no momento que o aplicativo definir. Depois de receber a notificação, ele tem dois minutos para fazer a foto e publicar -Ășnica forma de ver o que seus amigos publicaram tambĂ©m.

"NĂŁo dĂĄ tempo de ninguĂ©m se arrumar. Quando Ă© em horĂĄrio de trabalho, eu vejo todo mundo na sua mesa, mexendo no computador", diz ele. Desde a ascensĂŁo do TikTok, rede social de edição de vĂ­deos que ficou famosa pelas dancinhas virais, o Instagram passou a lançar ferramentas que imitam a plataforma chinesa. AĂ­ nascem os reels, para montagem de vĂ­deos, e o teste de tela cheia nas recomendaçÔes de conteĂșdos, recursos semelhantes aos do TikTok.

Foi a mesma estratégia aplicada com o Snapchat. Segundo noticiado na época pelo Wall Street Journal, em 2013, a plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos que somem em 24 horas rejeitou uma oferta da empresa dona do Instagram --e viu a sua principal ferramenta virar os stories.

As Ășltimas mudanças, porĂ©m, geraram protestos nas redes.

"Faça o Instagram ser o Instagram de novo", publicou na Ășltima segunda-feira (25) a influenciadora americana Kylie Jenner, segunda pessoa mais seguida da rede no mundo. "Pare de tentar ser o TikTok, eu sĂł quero ver fotos bonitas dos meus amigos."

O pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, Victor Barcellos, localiza esse embate no campo da economia da atenção.

"Essas grandes plataformas estĂŁo buscando a atenção dos usuĂĄrios, que se tornou um dos principais ativos na economia digital", afirma. Quanto mais tempo uma pessoa permanece na rede, a mais anĂșncios Ă© exposta.

Segundo relatĂłrio de janeiro de 2021 da App Annie, nos Estados Unidos os usuĂĄrios ficam mais tempo no TikTok do que no Facebook. Em 2020, foram 21,5 horas mensais gastas por usuĂĄrio no app da China, contra 17,7 horas na rede social americana.

A receita do sucesso pode estar na aba "For You" do aplicativo, segundo Barcellos. Ali ficam as recomendaçÔes de contas que vocĂȘ nĂŁo necessariamente segue, selecionadas por inteligĂȘncia artificial.

"O algoritmo tem uma precisĂŁo tĂŁo clara de identificar as preferĂȘncias que faz a gente realmente ficar viciado na tela e passar horas e horas assistindo Ă queles conteĂșdos", diz o pesquisador.

O chef e influenciador Guilherme Poulain, 36, sente isso nas suas publicaçÔes. Com 87 mil seguidores no Instagram, seus vídeos podem chegar a 20 mil pessoas, segundo ele. No TikTok, onde tem quase mil seguidores, suas publicaçÔes às vezes batem os 10 mil.

"É impressionante. NĂŁo precisa ter muitos seguidores lĂĄ para o vĂ­deo que vocĂȘ postou ser super visto", diz ele.

A tentativa do Instagram de seguir na mesma direção virou uma das maiores reclamaçÔes dos usuĂĄrios, que pedem para ver menos anĂșncios e vĂ­deos de desconhecidos e mais publicaçÔes de amigos.

"Essas reclamaçÔes acontecem pela perda de autonomia dos usuĂĄrios na decisĂŁo sobre quais conteĂșdos vĂŁo aparecer para eles", afirma o pesquisador Victor Barcellos.

Como o algoritmo não é aberto, é impossível saber as mudanças exatas que a rede social promove. Barcellos compara com um carro. Apenas quem montou sabe quais peças estão ali, mas dirigindo é possível saber se o motor é mais potente ou se as rodas estão mais eståveis.

Falas dos dirigentes apontam para uma guinada no modelo de negĂłcio.

Em julho do ano passado, Adam Mosseri, executivo que comanda o Instagram, afirmou que a rede social não era mais "um app de compartilhamento de fotos". "O vídeo estå gerando grande crescimento online para todas as plataformas agora, e acho que é uma årea em que precisamos nos esforçar mais."

A pressĂŁo do pĂșblico fez o Instagram recuar na Ășltima quinta-feira (28). A Meta, dona do Facebook, Instagram e Whatsapp, anunciou que estĂĄ diminuindo temporariamente o nĂșmero de recomendaçÔes de desconhecidos no Feed e pausando em todo o mundo o teste de tela cheia.

"Entendemos que as alteraçÔes no aplicativo demandam adaptação e, embora acreditemos que o Instagram precisa evoluir à medida que o mundo também se transforma, queremos tomar o tempo necessårio para garantir que isso seja feito da melhor forma possível", afirmou em nota um porta-voz da Meta.

O recuo aconteceu na mesma semana em que a empresa registra a sua primeira queda trimestral de receita.

Entre os anĂșncios dos Ășltimos dias estĂĄ o recurso "dual camera", que permite fotografar com as cĂąmeras frontais e traseiras simultaneamente, ferramenta que jĂĄ existe no BeReal.

Para Poulain, a tentativa nĂŁo deve ser suficiente para voltar a usar a rede para assuntos pessoais.

"Estou com preguiça do Instagram. Tenho usado cada vez menos. Uso muito para responder às pessoas e pelo meu trabalho, mas para olhar feed e stories cada vez uso menos", afirma. "O que estão pedindo é o que o BeReal tem sido para mim. Eu tenho poucas pessoas ali e estou vendo momentos ordinårios da vida delas."

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