Acesso à Internet e à privacidade são vitais para a liberdade, diz chefe da Proton
A Proton, empresa de segurança e privacidade na Internet, pode detectar ataques à democracia em um país antes de serem de conhecimento público, simplesmente observando a demanda por seus serviços, garante Andy Yen, presidente da empresa, à AFP.
Quando a Rússia bloqueou o acesso à imprensa independente após sua invasão à Ucrânia, a empresa que oferece uma rede privada virtual (VPN) registrou "um aumento de 9.000% nas assinaturas em um período de alguns dias", disse Yen em entrevista.
Essa empresa suíça também registrou uma explosão da demanda por VPN, usado para evitar restrições na Internet, no Irã em outubro do ano passado, quando as autoridades limitaram ainda mais o acesso à rede para combater a onda de protestos após a morte de Mahsa Amini.
Da sede do Proton, nos arredores de Genebra, Yen explica que a empresa descobriu que o aumento das assinaturas "quase coincide" com "os lugares onde a democracia e a liberdade estão sob ataque".
"Se houver um golpe na África, veremos isso em nossos dados antes de ser notícia", afirma.
- "Vigilância corporativa" -
O líder da Proton afirma que a missão da empresa ganhou urgência desde a invasão russa da Ucrânia.
"Todos vemos na Ucrânia como é importante ter tecnologias digitais que protejam a privacidade e deem às pessoas liberdade de informação", afirmou.
Portanto, para Yen, é "essencial" que empresas como a Proton permaneçam em países como Rússia ou Irã "mesmo que com perdas financeiras".
"Se abandonarmos esses mercados, as consequências serão muito graves", acrescentou.
A Proton começou há nove anos, graças a 10.000 usuários que reuniram 500.000 euros (532.500 dólares). Agora tem mais de 70 milhões de usuários.
A empresa, explicou Yen, distanciou-se do modelo de outros grandes grupos tecnológicos, como o Google e o Facebook, que oferecem serviços "gratuitos" em troca de vender dados do usuário.
"Se você é um usuário do Google, não é realmente um cliente do Google. Você é um produto", disse ele.
Influenciado por Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) que denunciou a espionagem digital em massa das agências do governo dos Estados Unidos, Yen diz estar mais preocupado com a "vigilância corporativa, que é muito mais massiva".
"Se você considerar o que a NSA pode ter sobre você, provavelmente é uma gota d'água em comparação com o que o Google e o Facebook têm", diz ele.
A Proton oferece serviços de e-mail criptografado e VPN, mas, em vez de vender os dados de seus usuários, oferece assinaturas mensais por menos de 10 dólares em troca de benefícios adicionais.
A empresa garante que a criptografia impede o acesso aos dados que viajam por seus servidores e que não pode entregar o conteúdo desses e-mails a qualquer governo que o solicite. Isso, junto ao serviço VPN, colocou esta empresa de 400 funcionários na mira de poderosos governos.
"Tivemos situações na Rússia e no Irã, nas quais todos os recursos do Estado foram lançados contra nós", diz ele.
"Não são foguetes ou mísseis voando pelo ar, mas é claro que há uma luta pelo futuro da Internet russa, iraniana e da Internet em geral", afirma.
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