6 descobertas recentes que revelam segredos inéditos dos vírus
Os vírus, pequenos e misteriosos invasores de corpos presentes no mundo todo, foram descobertos pela primeira vez em 1892. Até os dias de hoje, no entanto, continuamos a fazer descobertas sobre eles. Já sabemos que não são seres vivos, que não reproduzem por si só e que são feitos de material genético — tanto DNA quanto o químico RNA — e cobertos por cadeias de proteína.
E já que eles conseguem se integrar ao material genético do hospedeiro, encontramos os vírus em quase literalmente todos os lugares, desde bactérias até humanos, e em quaisquer condições climáticas, de polos a desertos ao fundo do mar. Em meio à pandemia da última grande ameaça viral enfrentada por nós, muita pesquisa foi feita acerca do SARS-CoV-2 e dos prováveis responsáveis pelo próximo surto. Há pelos menos seis novidades que descobrimos sobre os vírus, e falaremos de todas elas por aqui.
As mutações do coronavírus são furtivas
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, vimos uma série de variantes assolarem e preocuparem diversos países: Ômicron, Delta, XE... é cepa para dar e vender. Em fevereiro de 2021, um estudo publicado na revista Science analisou o método de mutação do SARS-CoV-2 e parece ter descoberto o segredo para tantas modificações genéticas no invasor.
Aparentemente, o vírus da covid muda com um movimento simples: deletando partes de seu próprio código genético. Ele tem seu próprio sistema de "revisão" que evita erros na hora de se replicar, garantindo cópias saudáveis, mas partes deletadas não conseguem ser revisadas, não é? E mais, essas deleções costumam aparecer em lugares parecidos do genoma. Esses lugares são aqueles onde os nossos anticorpos se ligariam ao vírus para inativá-lo, e, sem eles, os anticorpos simplesmente não o reconhecem.
É como um colar onde uma das contas está faltando. Apesar de não parecer grande coisa, para os anticorpos, é sim — o vírus consegue passar direto por eles dessa forma, requerendo todo um novo aprendizado por parte do sistema imune, que é feito através de vacinas ou mesmo a infecção pelo vírus propriamente dita.
Qual será o vírus da próxima pandemia?
O vírus SARS-CoV-2 foi o último a causar uma epidemia global, vindo de animais a humanos, mas há centenas de milhares de outros patógenos só esperando uma chance de dar as caras na nossa sociedade. Uma nova ferramenta online chamada SpillOver, que surgiu em um estudo de 2021 no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, permite categorizar os vírus a partir de seu potencial de sair dos bichos, infectar pessoas e causar uma pandemia.
Com isso, os cientistas avaliaram 887 vírus presentes em animais selvagens, incluindo alguns que já infectaram humanos — como o Ebola ou ou próprio SARS-CoV-2 —, os chamados zoonóticos. O vírus número um, ou seja, o que tem mais probabilidade de chegar aos humanos e causar uma pandemia, é o coronavírus 229E, uma variante de morcegos da mesma família do SARS-CoV-2, presente em animais africanos.
Outro patógeno presente no pódio é o PREDICT CoV-35, outro coronavírus que infecta morcegos, mas dessa vez, da África e do sudeste asiático. A lista não foi feita por mera curiosidade, a propósito — ela serve como uma ferramenta aberta a todos, para que cientistas, profissionais de saúde pública e políticos possam priorizar o estudo de alguns vírus especificamente, monitorar e diminuir atividades de risco, além de preparar vacinas ou medicamentos antes que alguma doença comece a causar uma epidemia por aí.
Milhares de novos vírus encontrados nos oceanos
Estudos recentes identificaram mais de 5.000 novas espécies de vírus nos oceanos de todo o mundo, partindo de análises de mais de 35.000 amostras de água, que buscaram vírus de RNA ou que utilizam RNA no material genético. A diversidade dos novos achados é tão grande que os pesquisadores propõem aumentar o número de grupos taxonômicos utilizados para classificar vírus de RNA de 5 para 10 filos.
Os cinco novos filos propostos são o Taraviricota, Pomiviricota, Paraxenoviricota, Wamoviricota e Arctiviricota, segundo estudo publicado neste mês de abril na revista Science. Todos os vírus de RNA contém um gene antigo, chamado de RdRp, com bilhões de anos de existência, e que ajuda os cientistas a mirar em sequências de RNA no oceano. Estudar um gene tão antigo pode ajudar os cientistas a entender como as primeiras formas de vida na terra evoluíram.
O "genoma Z" dos vírus é mais comum do que se pensava
O DNA é feito de nucleotídeos, que têm bases de nitrogênio específicas: guanina (G), citosina (C), timina (T) e adenina (A). Essas "letras" escrevem todo o código genético do DNA. Nos anos 1970, no entanto, cientistas descobriram um tipo de vírus — chamado cianófago — que utiliza uma base chamada 2-aminoadenina, ou "Z", no lugar da adenina. Ao invés de "ATCG", esses vírus escrevem seu código genético com "ZTCG".
Inicialmente, acreditava-se que o genoma Z era muito raro, presente em apenas uma espécie de vírus. Um estudo publicado em abril de 2021 na revista Science, no entanto, revelou que ele é muito mais comum do que se pensava, estando presente em mais de 200 tipos de vírus, todos eles bacteriófagos, ou seja, que infectam bactérias. As vantagens que vêm com o genoma Z incluem deixar o DNA mais estável em altas temperaturas, por exemplo.
Os intestinos humanos têm milhares de vírus inéditos
Às vezes, ao procurar por algo novo, você tem que olhar para dentro de si mesmo. Literalmente. É isso que fizeram os cientistas que publicaram um estudo em fevereiro de 2021, na revista Cell, descrevendo mais de 140.000 vírus anteriormente desconhecidos que estavam nos nossos intestinos.
Para a pesquisa, foram analisados mais de 28.000 amostras de microbiomas intestinais de 28 países diferentes. Todos os novos vírus eram bacteriófagos. Cada pessoa carrega apenas uma fração destes recém-descobertos vírus, e a grande maioria deles não parece oferecer perigo a seres humanos. Segundo os pesquisadores, como colônias de bactéria são um componente crítico dos nossos intestinos, não é surpresa que vírus bacteriófagos pudessem fazer parte da manutenção do equilíbrio do ecossistema intestinal.
Tá chovendo vírus
Pois é, é isso mesmo. Por muito tempo, os cientistas se perguntaram como vírus tão similares entre si geneticamente podiam ser encontrados a grandes distâncias um do outro no planeta. A resposta é que eles viajam pela atmosfera em correntes de ar — em um paper de janeiro de 2018, na revista Multidisciplinary Journal of Microbial Ecology, pesquisadores reportaram as caronas virais em partículas de solo ou de água, que vão até a camada chamada troposfera livre, e depois descendem em locais bem distantes.
Quando os vírus chegam a cerca de 2.500 a 3.000 metros, na troposfera livre, eles conseguem viajar muito mais rápido do que em altitudes mais baixas, então a tal camada tem vírus pra dar e vender. Por conta das correntes de ar, cada metro quadrado da cama fronteiriça planetária da terra recebe centenas de milhões de vírus todos os dias — na casa dos 800 milhões.
Fonte: Canaltech
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