5G 'impuro' falha em superar 4G em teste
SĂO PAULO,SP (FOLHAPRESS) - Telas de alguns modelos de celulares jĂĄ exibem o aguardado Ăcone do 5G quando estĂŁo conectados Ă rede mĂłvel em SĂŁo Paulo. Essa conexĂŁo, no entanto, ainda estĂĄ longe de ser aquela com ares futuristas, que promete de cirurgias robĂłticas a distĂąncia Ă popularização de carros autĂŽnomos.
O 5G disponĂvel hoje, chamado de DSS (Dynamic Spectrum Sharing) ou NSA (non-standalone), Ă© considerado "impuro". A conexĂŁo usa uma tecnologia nova, mas opera na mesma faixa de frequĂȘncia do 4G (2,3 GHz), o que limita o desempenho.
A versĂŁo "pura", ou standalone, tem uma faixa dedicada somente a ela, de 3,5 GHz. A conexĂŁo seria liberada no Brasil atĂ© 30 de junho deste ano, mas devido Ă falta de equipamentos, a Anatel (AgĂȘncia Nacional de TelecomunicaçÔes) decidiu adiar o prazo em 60 dias na Ășltima quinta-feira (2).
A Folha de S.Paulo testou o 5G DSS disponĂvel em SĂŁo Paulo usando um Samsung Galaxy S21 FE compatĂvel com a conexĂŁo. Os testes foram realizados ao longo de um dia na regiĂŁo da Avenida Paulista usando chips de duas operadoras.
Os resultados, obtidos pelo Speedtest.net, decepcionam e dão ao 5G impuro um jeito de 4G reembalado. Em alguns momentos, o desempenho chegou a ser muito inferior ao da geração anterior, trazendo memórias do 3G.
Pela Claro, as mĂ©dias de velocidade de download, upload e latĂȘncia do 5G DSS foram de 4,7 Mbps (megabits por segundo), 0,2 Mbps e 113,6 milissegundos. Pela Vivo, os resultados foram 36,4 Mbps, 18,6 Mbps e 43 ms.
A velocidade de download determina o tempo que dados levam para ser descarregados da internet, como uma playlist do Spotify e um filme da Netflix. A de upload, o tempo para fazer o inverso, como subir um arquivo para o Google Drive ou fazer uma chamada pelo WhatsApp.
A latĂȘncia Ă© o tempo de transferĂȘncia de um pacote de dados de um ponto a outro, crucial para atividades como jogos online e para as principais apostas da nova geração.
Os nĂșmeros podem variar a depender da hora e da regiĂŁo em que os testes sĂŁo feitos, mas o fato de que a nova conexĂŁo ainda estĂĄ distante dos nĂșmeros da geração anterior demonstra que o 5G ainda tem um longo caminho a percorrer.
Por exemplo, no mesmo teste, o 4G se saiu melhor. Pela Claro, as médias foram 10,7 Mbps, 12,7 Mbps e 83,3 ms. Pela Vivo, 120,9 Mbps, 38,5 Mbps e 19,7 ms.
Para o consumidor mĂ©dio, o 4G jĂĄ atende bem atividades de entretenimento, trabalho e educação. Mas o 5G, que Ă© associado ao aumento da produtividade da indĂșstria, do agronegĂłcio, da saĂșde e outros setores, requer velocidades maiores e latĂȘncia mĂnima.
A velocidade do 5G puro alcança, em média, 1Gbps (Gigabit por segundo), sendo dez vezes maior que a média do 4G. Por exemplo, para baixar um arquivo de 5 GB (um filme em alta definição) no 5G puro, seria preciso aguardar 42 segundos. E essa conexão pode chegar a até 20 Gbps.
No 5G DSS testado, o mesmo arquivo levaria em torno de duas horas e meia, levando em conta a média obtida pela Claro.
Segundo o Ăndice global do Speedtest para o primeiro trimestre de 2022, a mediana de velocidade do 5G da Claro no Brasil Ă© de 72,3 Mbps, seguida pela Tim, de 62,8 Mbps, e pela Vivo, de 62,3 Mbps.
Apesar de os nĂșmeros serem maiores que os obtidos no teste da Folha S.Paulo, ainda estĂŁo longe de representar uma evolução em relação ao 4G. Isto Ă©, mesmo levando em conta dados de todo o paĂs, o 5G DSS ainda nĂŁo Ă© a conexĂŁo que vai transformar o mundo.
Em nota, a Vivo ressalta que o 5G impuro Ă© a primeira etapa de evolução da nova geração. "Pelo carĂĄter transitĂłrio, nĂŁo oferece a real experiĂȘncia de quinta geração, e caracterĂsticas que virĂŁo a partir das novas frequĂȘncias, adquiridas no leilĂŁo da Anatel no final do ano passado", disse a empresa.
A Claro não se manifestou até a publicação do texto.
Dados da consultoria GSMA indicam que o mundo deve bater 1 bilhão de conexÔes 5G até o final deste ano. O Brasil estå prestes a ativar a faixa de 3,5 GHz do 5G, mas ainda falha em oferecer 4G a todos os habitantes.
Antes do adiamento da Anatel, o prazo para a ativação do 5G standalone no paĂs era 30 de junho. As operadoras, por sua vez, deveriam cumprir as primeiras obrigaçÔes atĂ© 31 de julho Âentre elas, a ativação de antenas na proporção de 1 para cada 100 mil habitantes nas 26 capitais e no Distrito Federal. Com o prazo adicional, essas datas passaram a ser 29 de agosto e 29 de setembro deste ano.