Fundos para investir no agro atraem 50 mil pessoas em 6 meses
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SĂO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em pouco mais de seis meses desde os primeiros lançamentos, os Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais) jĂĄ atraĂram cerca de 51,6 mil investidores, sendo a maior parte de pessoas fĂsicas, e R$ 3 bilhĂ”es em recursos.
O apelo de investir no setor agrĂcola em um cenĂĄrio de pressĂŁo inflacionĂĄria global e de alta nos preços das commodities tem contribuĂdo na atração de novos interessados.
AlĂ©m disso, a alta da taxa bĂĄsica de juros, a Selic, tambĂ©m favorece o interesse pelos fundos, tendo em vista que um dos principais alvos no radar dos gestores sĂŁo os CRAs (Certificados de RecebĂveis do AgronegĂłcio). Esses ativos costumam ter como indexador o CDI. Por isso, conforme a Selic sobe, o rendimento oferecido pelos certificados tambĂ©m aumenta.
Os fundos investem em culturas diversas do setor agro, com um olhar mais voltado neste momento para soja, milho, açĂșcar e etanol, e tĂȘm como proposta retornos que começam em torno de 3% ao ano, acrescidos do CDI.
Esses fundos tĂȘm como objetivo permitir que produtores rurais possam captar recursos, sem a necessidade de recorrer a financiamentos pĂșblicos ou aos grandes bancos privados.
Hoje sĂŁo 23 Fiagros listados na Bolsa de Valores brasileira. Eles começaram a chegar ao mercado em meados de outubro do ano passado, e rapidamente atraĂram o interesse de milhares de investidores.
Da base de cotistas, quase a totalidade Ă© formada por pessoas fĂsicas (99,25% do total), atraĂdas pelo fato de o produto ser isento de IR (Imposto de Renda) sobre os rendimentos auferidos, alĂ©m da exposição ao agronegĂłcio e ao CDI.
De janeiro a abril, houve um aumento de aproximadamente 70% no nĂșmero de investidores com cotas de Fiagros na carteira.
CONHEĂA OS TIPOS DE FIAGROS
A legislação permite trĂȘs tipos diferentes de Fiagros, sendo o principal deles os Fiagros Fundos ImobiliĂĄrios, que seguem as regras estabelecidas aos FIIs listados em Bolsa.
Do total de Fiagros, 21 sĂŁo do tipo fundo imobiliĂĄrio, que podem ser acessados por qualquer investidor.
A maior parte deles atua em formato parecido com os chamados fundos imobiliĂĄrios de papel, que investem em CRIs (Certificados de RecebĂveis ImobiliĂĄrios). A diferença Ă© que os Fiagros tĂȘm o foco voltado para o agro, por meio de CRAs, ou mesmo para CRIs que guardem relação com o setor. agropecuĂĄrio
HĂĄ ainda dois Fiagros que seguem a estrutura dos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos CreditĂłrios), e a legislação permite ainda s Fiagros do tipo FIP (Fundos de Investimento em Participação), que tĂȘm a prerrogativa de investir em ativos reais, como fazendas e florestas.
Os FIDCs e FIPs, contudo, são voltados somente para investidores classificados como qualificados pela legislação, com mais de R$ 1 milhão em aplicaçÔes financeiras.
VEJA COMO ALGUNS GESTORES MONTAM SEUS FIAGROS
ITAĂ: Com R$ 600 mi, RURA11 Ă© o maior Fiagro do mercado
Lançado no inĂcio de março pela ItaĂș Asset, o RURA11 Ă© atualmente o maior Fiagro no mercado em patrimĂŽnio, com cerca de R$ 600 milhĂ”es e 5.600 cotistas. As cotas do fundo eram negociadas a R$ 10,35 na sexta-feira (13) na B3.
Segundo Tadeu Barreto, gestor agro da ItaĂș Asset, a expectativa Ă© alocar todo o capital levantado Âcerca da metade jĂĄ foi investido atĂ© o final de junho, em especial em setores do agronegĂłcio como açĂșcar, etanol , alĂ©m de grĂŁos como soja e milho.
O retorno almejado Ă© de 3% a 3,5% ao ano, acrescido da variação do CDI. Portanto, com a taxa Selic em 12,75%, e caminhando para nĂveis ainda mais elevados, o retorno nominal proposto ao investidor estĂĄ hoje acima de 15%, assinala Barreto.
Se o momento Ă© bastante favorĂĄvel sob a Ăłtica do investidor, do lado das empresas, uma dose maior de cautela se faz necessĂĄria.
Com o aumento da taxa Selic, o sarrafo na escolha dos ativos também precisa subir, de modo a evitar papéis em que os emissores possam ter dificuldades para honrar com os compromissos, diz o gestor. "Tenho que olhar muito mais para chegar onde quero do que hå um ano."
Para fazer a seleção dos projetos, a gestora conta com o auxĂlio da ItaĂș BBA Trading, braço do banco de investimento voltado ao setor agro.
O RURA11 tem taxa de administração de 1% ao ano, com taxa de performance de 20% sobre o rendimento que exceder CDI mais 1%.
BTG Pactual: Fiagro FIDC busca mais flexibilidade de gestĂŁo
No BTG Pactual, a decisão foi estruturar em março deste ano um Fiagro dentro dos moldes de um FIDC.
Segundo Leonardo Zambolin, sócio e gestor do portfólio agro do banco, a opção pelo FIDC foi para permitir uma flexibilidade maior na seleção dos ativos.
O Fiagro do BTG pode investir em instrumentos financeiros que nĂŁo sĂŁo elegĂveis Ă carteira dos Fiagros imobiliĂĄrios, como as CPRs (CĂ©dulas de Produto Rural) e os CDCAs (Certificados de Direitos CreditĂłrios do AgronegĂłcio), alĂ©m de cotas de FIDCs.
"A ideia é operar o fundo como a tesouraria opera com o capital proprietårio do banco, com flexibilidade para fechar transaçÔes conforme o perfil e a necessidade dos emissores", afirma.
O fundo soma um patrimÎnio de aproximadamente R$ 304 milhÔes e conta com cerca de 4.700 investidores.
Entre os investimentos em carteira, estão cotas dos FIDCs da Zilor e da Usina Coruripe, com taxas de retorno em torno de 5% ao ano, além do CDI.
A Zilor Ă© uma multinacional brasileira que produz energia elĂ©trica renovĂĄvel e ingredientes naturais para alimentação humana e nutrição animal a partir do processamento da cana-de-açĂșcar, enquanto a Usina Coruripe Ă© focada no setor sucroenergĂ©tico.
"Gostamos do segmento sucroenergético pelo crescimento do etanol como fonte de energia renovåvel, até pelo viés ESG [investimentos responsåveis sob a ótica ambiental, social e de governança] dentro do banco", diz Zambolin.
O fundo tem taxa de administração de 1,15% ao ano, e 10% de performance sobre os rendimentos que excederem o CDI. A cota do BTAG11 era negociada a R$ 97,99 na sexta.
SUNO ASSET: gestora fecha parceria com Boa Safra Sementes para lançamento de Fiagro hĂbrido
A Suno Asset, por sua vez, fechou no inĂcio de maio uma parceria com a empresa agrĂcola Boa Safra Sementes para a estruturação de um Fiagro imobiliĂĄrio de R$ 125 milhĂ”es, que deve chegar ao pĂșblico geral atĂ© meados de agosto.
O investimento mĂnimo serĂĄ de R$ 100,00, com uma taxa de administração de 0,92% ao ano, sem performance.
O produto serĂĄ no formato hĂbrido, com uma carteira composta majoritariamente por CRAs, mas tambĂ©m com uma parcela menor de 20% destinada a imĂłveis relacionados aos negĂłcios no campo.
Diretor de investimentos da Suno Asset, Vitor Duarte diz que dois galpĂ”es logĂsticos jĂĄ estĂŁo em fase final de construção nas cidades de Sorriso e Primavera do Leste, no Mato Grosso, conhecidas pela produção de grĂŁos como soja e milho. Os imĂłveis serĂŁo adquiridos pelo fundo e, posteriormente, alugados Ă Boa Safra.
A empresa do ramo agrĂcola especializada na produção de sementes e que abriu o capital na Bolsa em abril de 2021 prestarĂĄ consultoria para a gestora na seleção dos CRAs.
A expectativa é entregar aos cotistas uma rentabilidade em torno de 3% ao ano, mais a variação do CDI.
Em um primeiro momento, foi feita a emissĂŁo de uma Ășnica cota do Fiagro, integralmente adquirida pela Boa Safra. Por ter sido realizada sob o formato de uma oferta restrita pela legislação de mercado, Ă© preciso esperar um prazo de 90 dias para que a Boa Safra possa negociar as cotas do fundo na Bolsa.
XP: corretora indica maior cautela com proteĂna animal e foca na diversificação
JĂĄ a XP lançou em novembro de 2021 o XP CrĂ©dito AgrĂcola Fiagro ImobiliĂĄrio, com cerca de R$ 135 milhĂ”es, todo ele jĂĄ comprometido, e 6.500 investidores.
Segundo Gustavo de Almeida, executivo responsĂĄvel pela ĂĄrea comercial de Fiagros da XP, uma das principais caracterĂsticas do fundo da casa Ă© a diversificação da carteira.
O Fiagro tem exposição a diferentes emissores em dez estados, com uma alocação mais direcionada aos plantios de soja e milho e para o setor sucroalcooleiro.
"A diversificação ajuda a diluir o pagamento de juros durante o ano, jå que as colheitas são em épocas diferentes", diz Almeida, que busca operaçÔes com indexação ao CDI acrescidas de juros entre 4,5% e 5,5% ao ano.
O especialista da XP acrescenta ter no momento uma cautela maior em relação ao setor de proteĂnas animais, em especial aves e suĂnos, frente ao aumento de custos e os constantes embargos impostos pela China, com compressĂŁo das margens.
A taxa de administração do fundo é de 1% ao ano, com 10% de performance sobre o que exceder 100% CDI. Na sexta, o XPCA11 também estava cotado a R$ 10,35.