Luz dos aparelhos eletrônicos traz danos à saúde
Por Fernando Gabriel
O uso intenso de dispositivos tecnológicos como smartphones, tablets, notebooks, computadores e videogames pode prejudicar a saúde de seus usuários. A luz emitida pela tela desses aparelhos causa alteração do sono, fadiga visual, lesões e doenças oculares.
“Especialistas estimam que entre 70% e 90% da população mundial sente desconfortos visuais após passar horas em frente à tela. Apesar de não ser classificada como patologia pela medicina, a fadiga ocular já́ é considerada um problema de saúde, fruto da vida moderna, que atinge cerca de 60% das pessoas com menos de 45 anos no mundo, tanto os usuários de óculos quanto os não usuários. Como qualquer outro músculo do nosso corpo, ao realizar um esforço contínuo, ocorrem o estresse das funções oculares e cansaço. Desta forma, o olho fica incapaz de promover o foco exato, ocasionando assim os sintomas de fadiga ocular”, explica Rodrigo Pegado, membro titular da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
Entre os sintomas mais comuns da fadiga ocular destacam-se os visuais – dificuldade de focagem ou visão turva, alteração ou flutuação na percepção das cores e aumento da sensibilidade à luz; os oculares – sensação de cansaço e dor ocular, olhos vermelhos e secos; e músculos esqueléticos – dor de cabeça, dores do pescoço, ombros e costas, irritabilidade e tonturas.
“Em relação aos problemas oculares, outro fator preocupante é o tempo de exposição, ou seja, o número de horas que os olhos estão expostos a essa luz azul emitida pelos aparelhos. Além da distância, pois quanto mais o aparelho fica perto dos olhos, maior o risco de fadiga visual, que é o que chamamos de vista cansada. Os sintomas da fadiga visual são dor de cabeça, irritação nos olhos, visão embaçada ou dupla, olhos vermelhos, secos ou lacrimejantes”, conta o Dr. Jae Min Lee, oftalmologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Para se proteger desses efeitos danosos, os especialistas apontam algumas recomendações importantes, como piscar, que ajuda na manutenção da umidade dos olhos, limpar a tela dos aparelhos para evitar o acúmulo de poeiras e manter distância de 50 a 70 centímetros dos celulares, monitores de computador ou TV. “Quem se sente incomodado com a iluminação deve procurar o oftalmologista para que seja definida a origem do desconforto, que pode ser de causa ocular (olho seco, blefarite, catarata) ou da própria iluminação. Causas especificas devem ser tratadas por medidas específicas”, esclarece o Dr. Newton Kara Jose Junior, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês.
Há ainda um alerta especial para crianças e adolescentes, que já nasceram rodeadas de inovações tecnológicas e costumam utilizar os aparelhos com mais frequência. “As crianças são as mais vulneráveis porque hoje em dia têm acesso a todos os aparelhos e já os incorporaram à rotina, inclusive durante os estudos. Como seus olhos estão ainda em desenvolvimento, eles filtram somente uma parte dessa luz azul que causa danos à saúde dos olhos e surgimento de doenças precocemente”, afirma Lee.
Sono também pode ser afetado
Atualmente é muito comum as pessoas utilizarem aparelhos eletrônicos deitadas na cama. Isso afeta diretamente a qualidade do sono e, consequentemente, atinge a questão hormonal, o humor e desempenho nas atividades diárias. A luz emitida por essas soluções tecnológicas pode trazer mais desconfortos do que se pode imaginar.
“A exposição à luminosidade dos aparelhos próximo da hora de dormir pode ocasionar aumento do nível de alerta cognitivo e, principalmente, ocasionar um atraso na liberação da melatonina (substância produzida no início da noite e que é responsável por preparar o corpo para a chegada do sono), causando um atraso no horário da chegada do sono”, relata o Dr. Leonardo Ierardi, neurologista e médico especialista em doença do sono e do laboratório de Neurofisiologia da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos com 1.500 adultos selecionados naquele país e no Canadá, México, Reino Unido, Alemanha e Japão indica que mais da metade dos americanos, canadenses e ingleses, e pelo menos dois terços dos japoneses usam algum tipo de dispositivo eletrônico ao menos uma hora antes de ir para a cama.
“A forma mais eficaz de lidar com essas doenças é modificando os hábitos e isso se faz instruindo e ensinando o assunto aos pacientes. Não basta dar recomendações, é importante explicar o porquê das orientações, isso faz toda diferença. O nome disso é psicoeducação. Sendo assim, não é necessária nenhuma nova tecnologia para minimizar esses problemas, apenas a boa e velha conversa sincera. Artifícios como filtro de luz azul não costumam ser eficazes”, completa Ierardi.